Início do conteúdo

Em corrente de solidariedade, valores de penas criminais viram equipamentos de proteção contra a Covid-19


“Meu nome é Cristina. Quando eu soube da iniciativa do Instituto Federal na Feliz, de ajudar o pessoal neste momento tão difícil, eu logo me inscrevi. Estou gostando de realizar o trabalho de costurar máscaras. Eu acho que a gente pode fazer a diferença num momento tão difícil na vida de muitas pessoas, doando um pouquinho do nosso tempo”.

Cristina Christ é mãe de uma estudante do Campus Feliz do IFRS e trabalha como secretária. Com a jornada reduzida em função da quarentena, optou por usar o tempo disponível e os conhecimentos de artesanato para costurar máscaras. Ela é uma entre os muitos voluntários que atuam como elos de uma corrente que envolve pessoas, instituições e vontade de ajudar a conter o avanço da contaminação pelo novo coronavírus.

Por iniciativa do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), essa rede está tornando possível transformar um recurso destinado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS) oriundo de penas pecuniárias – aplicadas como condenação criminal ou para evitar a condenação por crimes considerados de menor gravidade – em equipamentos de proteção (EPIs) no enfrentamento da Covid-19.

A estimativa é produzir mais de 100 mil máscaras e 500 batas hospitalares a partir de um trabalho coordenado por servidores e estudantes de nove campi do IFRS: Alvorada (foto abaixo à esquerda), Bento Gonçalves (foto abaixo à direita), Caxias do Sul, Feliz, Porto Alegre, Restinga (POA), Rio Grande, Rolante e Veranópolis, em parceria com comunidades, instituições e empresas apoiadoras. Os materiais serão destinados para órgãos de saúde locais e parte atenderá também estudantes, servidores e terceirizados das unidades do IFRS. Atualmente, os EPIs estão em fase de confecção, mas como o ritmo é acelerado, as primeiras entregas devem ocorrer ainda nesta semana.

 

União do bem

Para possibilitar essa produção, serão utilizados 700 quilos de TNT especial, que segue recomendações da Anvisa, entregues ao Comitê de Crise para Acompanhamento e Prevenção da Covid-19 do IFRS neste mês de maio. O material foi doado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que recebeu um recurso do  TJ/RS para investir em ações de enfrentamento do coronavírus.

A Fundação Empresa-Escola de Engenharia (Feeng) da Ufrgs atua conjuntamente com o IFRS na campanha #TamoJunto, de arrecadação de valores para a produção de equipamentos de proteção (saiba mais aqui). Por conhecer o trabalho do Instituto no combate à Covid-19 (acesse aqui para conhecer também), resolveu somar forças entre as instituições de ensino e destinar parte da doação do TJ/RS para ampliar as ações do IFRS.

O juiz corregedor do TJ/RS, Alexandre Pacheco, explica que os valores são oriundos de penas pecuniárias, os quais regularmente são destinados a projetos sociais, seguindo um trâmite de seleção das propostas. Com a situação de pandemia, o Conselho Nacional de Justiça autorizou destinações emergenciais para projetos relacionados à área de saúde.

Ao ter conhecimento das iniciativas da Ufrgs no enfrentamento ao coronavírus, a seriedade e o alcance chamaram a atenção, estimulando a parceria, conta o juiz: “Como são recursos públicos, precisam ser bem investidos”, aponta, acrescentando: “As parcerias são fundamentais. Em momentos como o atual, é preciso a união de todos para conseguirmos um maior número de beneficiados”.

Assim como o IFRS, a Ufrgs atua em várias frentes nesta emergência em saúde. Entre essas, estão o Projeto Trama, para a confecção de capuzes de TNT com proteção para orelhas e pescoço, voltado a médicos e enfermeiros; e o Projeto GRU, de produção de protetores faciais do tipo face shields. Segundo a professora pesquisadora Cínthia Kulpa, do curso de Design da Ufrgs, a meta é chegar a 300 mil face shields, para serem doados no Rio Grande do Sul e em outros estados.

O trabalho segue uma metodologia que é comum às instituições de ensino: começa com planejamento e engajamento de profissionais de diferentes áreas, segue com pesquisa sobre a forma de se chegar aos melhores resultados, são confeccionados protótipos e então ocorre a testagem dos materiais desenvolvidos, para posterior ajuste e fabricação.

Produção nos campi do IFRS

O Campus Feliz é uma das unidades que recebeu o TNT e está com o trabalho de produção bastante adiantado. O Campus já vinha confeccionando máscaras por meio do projeto de extensão “Grupos colaborativos para a produção e a distribuição de antissépticos e EPIs nos municípios do Vale do Caí“. Dessa forma, tinha uma rede ativa de dez costureiras voluntárias. Com a possibilidade de ampliar a confecção a partir da doação da Ufrgs e do TJ/RS, foi feita nova chamada, a qual conseguiu o engajamento de 15 costureiras, com a adesão de novas interessadas.

Serão confeccionadas aproximadamente 17.000 máscaras e 480 batas hospitalares. As peças foram cortadas pela empresa de confecção DiCorpo, de forma voluntária. A empresa DiCorpo disponibilizou-se também a realizar o corte do material para todos os campi participantes.

As ações têm ido muito além do que o próprio grupo de servidores do Campus Feliz imaginou, conta a professora Cristina Ceribola Crespam, coordenadora de Desenvolvimento Institucional e presidente do Comitê Local de Crise de Acompanhamento e Prevenção à Covid-19 do Campus. A ideia inicial era concretizar um projeto de extensão buscando apoio no Edital nº 23/2020 do IFRS, o que foi conquistado, mas agora as iniciativas ganham mais abrangência. “Estamos estreitando os laços entre o grupo de servidores, de modo que novos colegas têm participado das ações, mas também conseguido conhecer melhor a comunidade que atendemos. Saber que estamos contribuindo, dentro de nossas possibilidades, com o cuidado e o bem-estar de nossa comunidade nos gratifica.”

Mais do que proteção à Covid-19, é possível perceber que as iniciativas vêm estimulando bons sentimentos: gratificação, gratidão, solidariedade, como observa também a voluntária Tânia Kremer (foto acima): “Vi que poderia ceder tempo e os equipamentos que possuo para a confecção de máscaras que irão proteger e ajudar várias pessoas. É um gesto simples, mas de necessidade e realizado com todo carinho”. Tânia é proprietária da empresa Confecção Vida Tropical, que trabalha com camisetas e uniformes no município de Feliz, e uma das 15 costureiras voluntárias do Campus.

Capacitação e cuidados

Antes do trabalho, as voluntárias recebem uma capacitação online. As máscaras são feitas na casa de cada uma, que utiliza sua própria máquina de costura. O kit de materiais necessários para a confecção é entregue por servidores do IFRS, juntamente com máscara para proteção da costureira e álcool, produzidos pelos participantes do projeto, para higienização dos instrumentos e local de trabalho.

Algumas instituições a serem beneficiadas com a produção do Campus Feliz já estão definidas. O Hospital Montenegro atende 100% pelo Sistema Único de Saúde e receberá as batas. As máscaras serão doadas para as Secretarias de Saúde dos municípios da região do Vale do Caí, aos alunos e servidores do Campus, aos hospitais da região, à Apae de Feliz e à Aldeia Por Fi Gã Kaingang de São Leopoldo (em parceria com o Campus Canoas).

Leia também:

Fim do conteúdo