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Apoio para reconstruir a vida: IFRS oferece cursos de português gratuitos e outras ações para imigrantes e refugiados 


Motivados por instabilidade política e socioeconômica, conflitos, guerras ou desastres naturais, imigrantes e refugiados saem de seu país de origem para viver em localidades onde a língua e a cultura são diferentes. Para auxiliar a enfrentar esses desafios, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) oferece, há dez anos, cursos gratuitos específicos para quem escolheu o Brasil para residir. O objetivo é promover o aprendizado da língua portuguesa e, consequentemente, uma vida melhor.

Além disso, outras ações são promovidas nas unidades do Instituto. Saiba mais abaixo, em matéria da série especial #MundoIFRSparaTodoMundo, e confira histórias de quem já participou dos cursos.

 

Inserção na sociedade 

Saber a língua portuguesa é o primeiro passo para os imigrantes se inserirem na sociedade brasileira. Por isso, as ações do IFRS voltadas a imigrantes, refugiados e estrangeiros começaram com um curso de extensão presencial no Campus Bento Gonçalves, em 2013, o qual ainda é ofertado atualmente. 

A coordenadora da ação, Carina Fior Postingher Balzan, ressalta que eles chegam ao Brasil com pouco ou nenhum conhecimento da língua, mas precisam se comunicar para buscar moradia, trabalho, assistência social, atendimento médico e educação para os filhos. “Como dispõem de poucos recursos financeiros, não têm como pagar por um curso. No IFRS, encontram a formação gratuita, com certificado reconhecido pelas instituições regulatórias, como o Ministério da Justiça”, complementa. 

Os cursos de acolhimento ofertados são destinados a qualquer imigrante estrangeiro interessado em aprender o português. Na instituição, já passaram alunos do Haiti, Senegal, Venezuela, Paquistão, Síria, Bangladesh, Afeganistão, entre outros países. “As turmas geralmente são heterogêneas em termos de idade, escolaridade, país de origem, línguas faladas, domínio do português. Cada um no seu ritmo, todos aprendem o suficiente da língua para sua comunicação diária”, explica Carina. 

A coordenadora destaca que a troca intercultural promove um aprendizado coletivo e os estudantes manifestam um sentimento de pertencimento ao IFRS. “Isso porque sentem-se respeitados e valorizados em suas culturas.”

 

De professor no Haiti a estudante no IFRS

O haitiano Enselot Joachin, 39 anos, fez parte da primeira turma do curso “Língua Portuguesa para imigrantes e refugiados” do Campus Bento Gonçalves. Ele mudou-se para o Brasil após o terremoto que devastou seu país juntamente com as crises sociopolíticas. 

Formado em Direito e professor de história, geografia e gramática francesa, Enselot não tinha intenção de sair do Haiti, mas, como explica, a vida lhe obrigou. “Quando cheguei ao Brasil, foi tudo diferente do que eu imaginava. Eu vim direto pra Bento Gonçalves, onde me parece que não tinha um grande fluxo de negros. Foi difícil a adaptação, até que me acostumei.”

Enselot lamenta que os diplomas do Haiti não são aceitos no Brasil e isso reduz as oportunidades. Mas afirma que o curso de português ajudou muito a buscar outras alternativas.  Atualmente, ele cursa o sexto semestre de Tecnologia em Horticultura do Campus Bento Gonçalves e trabalha como montador de móveis. 

“Devido a problemas na documentação, tive de fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para poder estudar aqui. Graças a tudo que aprendi nas aulas de português no Instituto, passei no processo seletivo e estou cursando o sexto semestre de Horticultura, sem contar na facilidade de lidar e aprender no meu trabalho, no meu dia a dia. Valeu a pena!”

 

Recomeçar a vida em solo brasileiro

Para a também haitiana Daphne Amiscar, 33 anos, que reside na cidade de Ibirubá desde 2019, os problemas políticos motivaram a migração para o Brasil. Ela havia terminado seus estudos de secretariado e estava trabalhando na secretaria de uma escola quando teve de arrumar as malas e buscar um novo lugar para morar. “Viemos eu e meu marido recomeçar nossas vidas do zero. Não foi fácil e meus pensamentos estão lá e aqui. Hoje tenho um filho de 2 anos, nascido no Brasil.”

Atualmente ela trabalha como auxiliar de limpeza no Campus Ibirubá e foi assim que descobriu o curso de português para imigrantes. “Vi um cartaz na parede com informações sobre o curso, em seguida um amigo me avisou sobre essa oportunidade. Então resolvi fazer e foi ótimo!”

Ela afirma que  o curso mudou sua vida para melhor. “Hoje consigo me comunicar com as pessoas e entendê-las, só na escrita às vezes mudo um pouco a ordem das palavras. Agradeço imensamente ao IFRS por essa grandiosa oportunidade”. 

 

Apoio aos estrangeiros

Gemael Germani, haitiano de 38 anos, escolheu o Brasil como seu país pelas oportunidades e por gostar da cultura brasileira. Concluiu o ensino médio no Haiti e no Brasil iniciou agronomia e cursou dois anos de contabilidade. 

Ele conta que, ao vir para o Brasil, há 4 anos, começou a frequentar uma igreja com um amigo, para ajudar os demais estrangeiros que chegavam a Ibirubá. “Neste momento eu percebi a importância de ter um curso de português para nos comunicarmos melhor”, lembra.

Assim que foi lançado o curso, e ofertado na Biblioteca Municipal de Ibirubá, Gemael fez a matrícula e convidou outros imigrantes para estudar. “Não fiz o curso pelo certificado, mas para me comunicar melhor, falar e ter mais oportunidades. Acho importante estarmos sempre dispostos a aprender. O conhecimento é a melhor riqueza que uma pessoa pode ter”, enfatiza.

No Haiti, Gemael trabalhava na produção de banana. Atualmente, é soldador. 

 

Sobre os cursos e as provas para a naturalização

Os cursos presenciais são ofertados atualmente nos campi Bento Gonçalves, Feliz e Ibirubá. Além desses, há os de educação a distância (EaD), disponibilizados na plataforma moodle IFRS. Nesses, o estudante pode se cadastrar pelo site moodle.ifrs.edu.br e realizar as aulas de forma totalmente on-line. Ao final, recebe certificados. Todos são gratuitos.

E como para a naturalização é exigida a realização de ao menos uma prova presencial para os cursos de língua portuguesa feitos a distância (conforme a Portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública nº 623, de 2020), o Instituto também oferta a prova. É pioneiro na elaboração e aplicação desses testes, aplicados gratuitamente desde 2021 em diferentes campi do IFRS.

Até junho de 2023, a Pró-reitoria de Extensão do instituto promoveu a aplicação dos exames nos campi Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Feliz, Ibirubá, Porto Alegre, Rio Grande, Veranópolis e Viamão. Em torno de 400 imigrantes foram aprovados.

E pensando em estender o atendimento a quem está residindo fora do estado e fez o curso on-line do IFRS, desde o ano de 2022 o Instituto abriu a possibilidade para outras instituições de ensino brasileiras aderirem à iniciativa. No ano passado, nove institutos ofertaram a prova em suas unidades. Atualmente, está aberto o Edital Proex nº 18/2023, para outras instituições interessadas em aplicar as avaliações de língua portuguesa.

 

Português como Língua Adicional (PLA) em rede

O IFRS também aderiu a uma iniciativa nacional para a oferta de aulas de português lançada pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (Conif) em 2021. Trata-se do Programa Português como Língua Adicional (PLA), o qual busca promover a educação do idioma na Rede e, assim, fortalecer as políticas de internacionalização.

O PLA em Rede é um curso on-line  e a diferença dos cursos ofertados no Moodle do IFRS é que esse tem aulas síncronas e um professor para auxiliar os estudantes. Até o momento, o IFRS participou de três edições do curso e, segundo a assessora de Assuntos Internacionais da instituição, Viviane Campanhola Bortoluzzi, há previsão de abrir uma nova turma até o início de setembro.

 

Material didático pedagógico voltado à alfabetização

Outra iniciativa do IFRS são projetos de pesquisa sobre o Ensino de Português como Língua de Acolhimento (PLAc), vinculados ao curso de extensão do Campus Bento Gonçalves e existentes desde 2019. Por meio de estudos realizados sobre o perfil linguístico e sociocultural dos estudantes, metodologias de ensino, materiais didáticos, formação de professores para o trabalho com estudantes imigrantes e refugiados, foi elaborado um material didático pedagógico voltado para a alfabetização de crianças migrantes e refugiadas. A ação tem a parceria da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Seco, de Caxias do Sul, e no IFRS é coordenada pela professora Carina Fior Postingher Balzan. Esses conteúdos estão disponíveis de forma gratuita no Repositório Institucional

Para o procurador da república do Ministério Público Federal (MPF) de Caxias do Sul, Fabiano de Moraes, essa iniciativa, além do pioneirismo e excelência, impacta de forma positiva os estudantes e suas famílias. “O comprometimento do IFRS pela educação de qualidade faz com que o modelo utilizado mereça ser abraçado e replicado por toda rede de ensino, visando à inclusão escolar de alunas e alunos migrantes. Além disso, a oferta de curso de português para migrantes, realizado presencial ou on-line, os quais são certificados com a aprovação em provas aplicadas em diversas localidades, também possibilita a integração dos migrantes à sociedade e ao mercado de trabalho”, conclui o procurador.

 

Coral de Novos Imigrantes 

Mais uma atividade, iniciada em junho de 2023, é o “Coral de Novos Imigrantes”, que integra o Projeto de Extensão “Musicando a Diversidade” do Campus Bento Gonçalves. O objetivo é proporcionar a interação, por meio da música, entre imigrantes instalados na Serra Gaúcha e a comunidade do campus. Semanalmente, os participantes se reúnem para o ensaio de músicas brasileiras e internacionais, principalmente das nacionalidades dos imigrantes inscritos. Saiba mais sobre o coral de imigrantes do Campus Bento Gonçalves

 

Prêmio Direitos Humanos 2018

Por ações desenvolvidas para apoiar esse público, o Campus Erechim do IFRS recebeu o Prêmio Direitos Humanos 2018 – categoria Migrantes e Refugiados, promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos. A instituição havia ofertado cursos de informática básica e costura para haitianos e africanos, com um impacto bastante positivo na vida dos cursistas. Saiba mais

 

Como acompanhar as oportunidades para estrangeiros ofertadas pelo IFRS

Curso de Língua Portuguesa para Imigrantes e Refugiados – presencial no Campus Bento Gonçalves – é gratuito e contempla o nível básico da língua portuguesa – Módulo I. Tem atividades uma vez por semana, à noite. A próxima turma está prevista para iniciar em agosto, com período de inscrições de 27 de julho a 04 de agosto, via formulário eletrônico disponível no site do Campus. São 35 vagas e o preenchimento é por ordem de inscrição. 

O curso acontecerá às terças-feiras, das 18h30 às 20h, de 08 de agosto a 28 de novembro. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected]

>> Outros cursos presenciais devem ser ofertados ainda este ano nos campi Feliz e Ibirubá. Acompanhe os sites dos campi para mais informações.

 

Língua portuguesa e cultura brasileira para estrangeiros – são dois cursos a distância de 200 horas cada, gratuitos, ofertados nos níveis básico e intermediário. Não há tutoria, então o estudante faz na hora que tiver disponibilidade. Basta se inscrever e começar. É preciso ter acesso a um computador ou celular com internet. Mais informações na página de Educação a Distância do IFRS

 

Avaliação de Língua Portuguesa para estrangeiros – é uma prova presencial, gratuita, voltada para quem fez algum curso on-line do IFRS. O estudante precisa se inscrever e ir ao local de prova, conforme as informações e datas divulgadas em documentos chamados editais. É possível acompanhar os editais e saber mais no site do IFRS . Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail [email protected].

 

Programa Português como Língua Adicional (PLA em rede) –  curso on-line gratuito com aulas síncronas semanais, em 18 semanas. São 250 horas de curso. Previsão de nova turma no final de agosto ou início de setembro. As inscrições serão realizadas através de formulário eletrônico. Serão disponibilizadas 30 vagas para o módulo I, com abertura das inscrições no início de agosto. As vagas serão preenchidas por ordem de inscrição. 

 

Informações complementares sobre essas ações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected].

 

Confira também:

Material didático de alfabetização para estudantes imigrantes e refugiados da Educação Básica

Material didático-pedagógico para estudantes imigrantes e refugiados da Educação Básica

 

#MundoIFRSparaTodoMundo

Acompanhe outros textos publicados este ano sobre a atuação do IFRS pela diversidade e inclusão:

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