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Projeto Alvorada: IFRS forma 17 egressos do sistema prisional em Empreendedorismo Social


Mesa de solenidade de formatura. Na mesa o Pró-reitor de ensino Lucas Coradini cumprimenta uma estudante.

Emoção, alegria, perspectivas. Esses foram alguns sentimentos que marcaram a solenidade de formatura de 17 egressos do sistema prisional que receberam o certificado do curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) de Empreendedorismo Social do Projeto Alvorada, na última sexta-feira, 13 de janeiro de 2023, no Campus Porto Alegre do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).

A estudante e oradora da turma, Letícia Gonçalves Meirele, agradeceu a todos os colegas e professores, em especial ao coordenador do curso, Robério Garay, por não ter desistido deles e dos seus sonhos, enquanto seus caminhos eram “só espinhos e indecisão, com problemas financeiros, familiares e de saúde”. Para os colegas, Letícia deixou um recado: “Vocês podem muito. Vocês podem ganhar o mundo se vocês quiserem. Nós podemos.”

Durante sua fala, Robério lembrou a importância de cada autoridade presente para a realização do curso, sobretudo o enfrentamento às dificuldades. As aulas começaram em 2 de maio de 2022 e, ao longo dos oito meses, cada estudante foi descobrindo e mostrando seus talentos. “Eu, saindo de uma pandemia, queria respirar e queria vê-los todos respirar. Mas eu penso que nós conseguimos mais com vocês. Nós conseguimos respirar e conseguimos ter um sentido para passar este ano de 2022. Para chegar ao final dele, com uma nova perspectiva para este País e acreditar que daqui para frente nós podemos voltar a sonhar, que o Projeto Alvorada talvez possa se transformar numa política pública permanente”, declarou.

Em seu discurso, o Pró-reitor de Ensino do IFRS, Lucas Coradini, que representou o reitor Júlio Xandro Heck, ressaltou o quanto o Projeto Alvorada foi pensado de forma muito personalizada para oferecer uma formação cidadã e emancipatória.

Quanto à possibilidade de uma nova turma do Projeto, Coradini mencionou que deverá haver negociação com o novo Ministério da Justiça. Enquanto isso, o IFRS tem apostado em outras formas dos cursos FIC direcionados a públicos específicos, buscando a inclusão social, especialmente porque é a base da pirâmide da verticalização do ensino proposta pelos institutos federais.

O pró-reitor ainda lembrou que hoje a instituição tem um novo projeto de Educação de Jovens e Adultos – FIC dentro dos presídios. Além disso, há tratativas de um convênio que possibilitará que vagas ociosas dos campi, geradas por eventual evasão, possam ser preenchidas por egressos do sistema prisional.

Uma nova vida

Anderson Dutra Rebimbas de Oliveira Santos, 40 anos, recebeu o certificado e também uma roçadeira a fim de dar continuidade ao projeto de paisagismo e jardinagem que começou a desenvolver durante as aulas. Emocionado, falou que uma das razões por escolher este tema foi para incentivar os quatro filhos a trabalharem nesta área e que não quer que eles passem pelo que ele viveu. “Nem que eles não sigam, mas quero que vejam que o pai deles sempre buscou o melhor para eles”, disse.

Anderson, que começou a delinquir e a usar drogas aos 13 anos, tendo cumprido pena por 23 anos, afirmou que não queria fazer o curso, pois precisava trabalhar para sustentar sua família. Seu ingresso, num primeiro momento, foi motivado pela bolsa de R$ 1.100,00 que cada estudante recebeu ao longo do Projeto Alvorada e pelo incentivo da esposa, que, conforme destacou, é sua fonte de energia e com quem aprendeu a sonhar. “Ao longo do curso eu fui gostando da ideia de eu poder montar meu próprio negócio e fui entrando de cabeça e isso me fez muito bem. Fui aprendendo a me portar, a conversar com as pessoas e renovando meu círculo de amizades. Isso foi fundamental para melhorar minha mente e ingressar em outra vida”, relatou.

A solenidade de formatura foi recheada por momentos culturais. O primeiro deles foi com a música “Novo Alvorecer”, composta e cantada especialmente para o Projeto Alvorada pelos professores do Campus Porto Alegre, Celson Canto e Marcelo Schimidt. Na segunda parte, a também servidora do Campus Porto Alegre, Ro Bjerk, acompanhada por Ricardo Fragoso, apresentou algumas canções em homenagem aos formandos. E para finalizar a cerimônia, a poesia que a formanda Taís Helena Castro de Oliveira escreveu pensando na trajetória do Projeto Alvorada.

Gratidão

Quando cansada chego, coloco minha cabeça no travesseiro, sinto as batidas do meu coração, num compasso de gratidão.
E como não ser grato diante a tanta dedicação?
E como não ser grato diante a tanto respeito?
E como não ser grato diante a tanta humildade?
E como não ser grato, pois diante de tantos outros fomos escolhidos.
E como não ser grato diante a tantas descobertas?
E como não ser grato ao despertarem o adormecido?
E como não ser grato com as suas motivações?
É tanta gratidão que contagia o coração. Se transforma em emoção onde os olhos brilham. Na pele, um arrepio.
E como não ser grato?

Participaram do evento o diretor-geral do Campus Porto Alegre, Fabrício Sobrosa Affeldt; o diretor-geral do Campus Alvorada, Fabio Azambuja Marçal; o diretor-geral substituto do Campus Viamão, Alexsander Lemos Ferreira; o presidente do Conselho Penitenciário do Estado do RS, Nilton Ribeiro de Caldas; professores do Projeto Alvorada, além de outras autoridades.

Sobre o Projeto Alvorada

O projeto foi um convênio firmado entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça. A execução ficou a cargo de três campi: Alvorada, Porto Alegre e Viamão.

O curso teve início em maio de 2022, com duração de oito meses, distribuídos em 500 horas/aula, sendo ministradas oito disciplinas, além de tutoria para o desenvolvimento de ações de empreendedorismo social e fortalecimento da cidadania.

De 20 estudantes matriculados – egressos do sistema prisional da Região Metropolitana de Porto Alegre que se encontravam em liberdade condicional, 17 concluíram o curso. Todos desenvolveram planos de negócios, sendo 15 relacionados com ações de ocupação e renda como empreendedores sociais, e dois vinculados à busca de emprego e salário.

Cada egresso recebeu uma bolsa mensal no valor de R$ 1.100,00, para despesas com necessidades pessoais no período imediato pós cárcere. Onze concluintes acessaram, após a tutoria, a bolsa empreendedor de R$ 585,00 para a compra de insumos ou equipamentos para os seus projetos, como kit para barbearia, roçadeira, equipamentos para gastronomia, dentre outros.

Sobre o curso

O Plano Pedagógico de Curso previu disciplinas de cultura e cidadania, saúde e cuidados de si, tópicos de linguagem, inclusão digital e informática instrumental, comportamento empreendedor, empreendedorismo social e inovação, administração e marketing, que convergiram para, durante o desenvolvimento da disciplina de projeto de vida e da realização da tutoria, efetivar projetos de vida de cada estudante.

Ao longo da formação, os alunos foram além do Projeto Alvorada e buscaram outros cursos dentro do próprio IFRS. Dois realizaram o curso de extensão para a constituição de micro empreendimento individual; um concluiu o ensino fundamental através Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja); três devem iniciar o ensino médio no IFRS em 2023 e; dois estão inscritos para cursos de extensão nas áreas de panificação e construção civil, também no IFRS.

Dados carcerários

O Brasil tem a terceira maior massa carcerária do mundo, somente atrás dos Estados Unidos e China. Cada pessoa encarcerada, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), custa aos cofres públicos em torno de R$ 1.800,00 mensais.

O IFRS foi a única instituição no Rio Grande do Sul a abrigar o projeto, em ação conjunta entre Pró-reitoria de Ensino (Proen), Departamento Penitenciário Nacional, Ministério Público Estadual e Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe).

Texto elaborado em colaboração com a Comunicação do Campus Alvorada/ Foto: Joana Paloschi

 

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