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Debates sobre Interseccionalidade marcam o IV Workshop Diversidade e Inclusão


Esquete teatral Reflexões Afrocientistas: A Voz da Juventude Negra do Campus Viamão

Promover um espaço de qualificação para que servidores e outros profissionais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) dialoguem de forma concreta e articulada sobre os temas das ações afirmativas. Esse foi o objetivo do IV Workshop Diversidade e Inclusão que aconteceu no Campus Bento Gonçalves, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, reunindo mais de 150 pessoas entre servidores, estudantes e membros da comunidade.

A luta constante por uma instituição que reconheça, respeite e valorize a diversidade, além de combater preconceitos e discriminações, foi destacada nas falas de abertura da diretora de Extensão do Campus Bento Gonçalves, Pauline Fagundes Rosales; da assessora de Ações Afirmativas, Inclusivas e Diversidade, Andréa Poletto Sonza; e do pró-reitor de Ensino, Fábio Marçal.

“Este é um espaço coletivo de afirmação, de uma caminhada importante, bonita e difícil, que deve ser revisitada de forma crítica e propositiva, pavimentando os próximos passos da nossa instituição. A educação é para todos, e este workshop é uma das formas de dizer não às desigualdades e à negação da escolarização”, destacou o pró-reitor.

A Interseccionalidade no centro do debate

A professora Lauri Miranda Silva, do Campus Rolante, e o palestrante Rogério Diniz Junqueira, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), trouxeram debates acerca de “como as diferentes formas de discriminação, opressão ou privilégios se cruzam e interagem, criando situações únicas para indivíduos ou grupos”. Eles proferiram, respectivamente, as palestras de abertura e encerramento do evento. Ambos analisaram como marcadores como gênero, raça, classe, orientação sexual, idade, deficiência, entre outros, não atuam de maneira isolada, mas estão interligados e influenciam as vivências de cada indivíduo e da coletividade.

Professora Lauri Miranda Silva, do Campus Rolante durante palestra de abertura

Lauri, que é travesti, transexual, mulher negra e egressa de escola pública, afirma que pessoas como ela são “minorias das minorias” nos espaços acadêmicos e em tantos outros, devido ao racismo e à transfobia estrutural e institucional. “O meu trabalho e a minha fala têm vários endereçamentos. A partir do meu corpo, da minha voz, da minha escrita e das minhas experiências. Escrevi para a academia, onde ainda domina uma heteronormatividade branca, classista e masculina em suas produções.”

Rogério destacou como o preconceito e a discriminação não afetam apenas as pessoas e grupos a quem se destinam, mas também interferem na cultura, na construção e no funcionamento de diversas instituições sociais, especialmente no contexto escolar.

 

Palestrante Rogério Diniz Junqueira durante palestra de encerramento do evento

A voz de várias realidades

Os estudantes participantes do evento relataram enfrentar desafios no dia a dia. Nicolas de Abreu é um jovem trans de 17 anos e está finalizando o curso técnico em Manutenção e Suporte em Informática no Campus Sertão. Ele, que foi bolsista do núcleo de gênero por dois anos, enfatiza como o campus é importante. “Sempre fui acolhido. Dentro da escola é onde me reconheço e sou aceito desde a minha chegada”. No entanto, destaca que barreiras precisam ser superadas. “Tem servidores que ainda não entendem meu processo e identidade de gênero. Precisamos que todos, principalmente os professores saibam e respeitem cada um.”

Emanuelli da Silva Schwantes é aluna do curso Técnico Integrado em Multimídia do Campus Vacaria. É bolsista do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e indígena (Neabi) e conta que foi nesse espaço que encontrou apoio para se incluir no campus e se entender como uma mulher negra. “Nosso campus é bastante agrícola, tem muitas pessoas brancas e é difícil se enxergar e ter com quem se identificar”. Segundo ela, é por meio das cotas e das ações do núcleo que mais alunos pretos, pardos e indígenas conseguem ingressar na instituição.

Sara de Carvalho Leite, que é autista nível dois de suporte, está cursando Técnico em Meio Ambiente no Campus Viamão. Ela relata que faz parte do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne) há dois anos e que lá encontrou apoio, conforto e adaptação para as provas e atividades escolares. “Como tenho bastante ansiedade, a equipe do núcleo me ajuda a me comunicar com os professores e a expressar minhas necessidades. Muitos professores não fazem o material adequado, mas o Napne sempre os lembra e insiste”, explica.

Debates, artes, culturas e conhecimentos

Também foram realizadas salas temáticas e grupos de trabalho para discutir a importância e o papel institucional dos núcleos de ações afirmativas, bem como as estratégias de acolhimento e acompanhamento de estudantes e servidores com deficiência, com necessidades educacionais específicas, além de pessoas negras, indígenas e comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais).

Oficina de materiais pedagógicos acessíveis e tecnologia assistiva ministrada pelo CTA

Foi exibido também um conjunto de vídeos com depoimentos de alunos atendidos pelos núcleos de ações afirmativas nos campi, intitulado ‘Protagonismo dos Estudantes e a Diversidade no IFRS’.

Depoimento de estudantes dos Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napnes)

Depoimentos dos estudantes dos Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena (Neabis)

Depoimentos dos estudantes dos Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade (Nepegs)

Arte e cultura também estiveram presentes com a apresentação da Banda GMCIC (Grupo Música no Campus, Integração entre Cursos) do Campus Bento Gonçalves e a esquete teatral Reflexões Afrocientistas: A Voz da Juventude Negra do Campus Viamão.

Apresentação da Banda GMCIC do Campus Bento Gonçalves

O workshop também apresentou produções relacionadas à diversidade produzidas no IFRS:

Participaram do evento servidores e estudantes dos Núcleos de Ações Afirmativas, membros das Equipes de Assistência Estudantil, das Equipes Pedagógicas/Ensino e integrantes da comunidade externa, incluindo pessoas de outras instituições, como o IFSul.

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