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[Se liga na dica!] Livro “Teocrasília: O Fim da Inocência” aborda de forma esplendorosa um cenário político nacional distópico, avalia o estudante Nauberth Boeira
Ao longo do 3° trimestre letivo de 2022, os estudantes da turma do 2° ano do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio engajaram-se na produção de resenhas com o objetivo de compartilhar com a comunidade escolar dicas de livros, séries, filmes e álbuns musicais para preencher de cultura o período das férias.
A atividade ocorreu no âmbito da componente curricular Língua Portuguesa e Literatura II e constituiu etapa da implementação do projeto de pesquisa “O ensino e a aprendizagem da escrita pela reescrita: a interlocução a serviço da construção de conhecimento em língua portuguesa no ensino médio”, liderado pela professora Andréia Kanitz.
Nesta série de publicações, você terá acesso aos textos produzidos pelos estudantes, que escolheram resenhar produtos culturais diversos que compõem a cultura juvenil. Então, se liga na dica!
Teocrasília:
o Brasil que não queremos!
Por: Nauberth Boeira
Teocrasília: O Fim da Inocência aborda de forma esplendorosa um cenário político nacional distópico. Publicado em novembro de 2021, pela Editora Guará, o primeiro volume do livro, do quadrinista e professor de artes Denis Mello, mostra um futuro distópico que se passa em um Brasil tomado por um regime teocrático, fruto de uma manobra política religiosa. A obra, que já conta com mais dois outros volumes publicados, é mais um grande acerto da editora, que tem como foco o lançamento de quadrinhos não só de escritores brasileiros, mas principalmente de temáticas brasileiras.
Ganhador de três prêmios HQ Mix, Denis Mello é formado pela Escola de Belas-Artes da UFRJ (2013) e finalizou sua formação com uma especialização em HQs na Escola Europeia Superior de Artes Visuais (EESI) em Angoulême, na França. Atualmente, trabalha como ilustrador, oficineiro e professor. Ficou muito conhecido no cenário de quadrinhos nacionais após a publicação da obra Beladona, quadrinho vencedor do troféu HQ Mix (2013, 2015, 2016). Além desse sucesso, também publicou outros quadrinhos, como Palestina: As Pedras do Caminho (seu primeiro quadrinho), Copa Negra, M, entre outras publicações. Destaco também seu empenho no cenário brasileiro, participando constantemente de eventos como a Comic Con Experience (em São Paulo) e o Festival Internacional de Quadrinhos (em Belo Horizonte).
O primeiro volume de Teocrasília, foco desta resenha, narra um cenário repressor e violento. Um grupo decide se isolar e começar uma sociedade alternativa, o ReSoLa (Retiro Solidário Laico). O “Divino Altar”, composto pelos pastores mais ricos e influentes do país, dita os rumos da nação que é varrida por uma série de retrocessos sociais. Entretanto, num cenário no qual dogmas religiosos são impostos com o rigor da lei e transgressores são enviados para “Campos de Reconsagração”, nem todos pretendem suportar calados o peso dessa opressão. No primeiro volume, acompanhamos diferentes pessoas que lidam de formas alternativas com a situação. Exemplos disso são uma cientista que decide encarar o mundo sem mudar sua saia curta e um funcionário público que passa a burlar as proibições do regime por trás de um pseudônimo, nos intrigando com a pergunta do que será o destino deles numa Niterói vigiada pela Legião do Altar e pelos Fanáticos Cruzados, grupos que funcionam quase como partidos políticos, ou melhor, representam lados opostos da população.
É incrível ver como que, em poucas páginas, a narrativa já nos atinge com diversos temas sociais presentes na sociedade brasileira, ao mesmo tempo que choca o leitor com temas de machismo, violência contra mulher, intolerância, violência policial e o perigo do uso político da religião. As semelhanças entre ficção e realidade são assustadoras, e até um tanto perturbadoras. Exemplo disso é o uso político da religião. Essas similaridades com o que é possível observar no contexto real, embora assustem, de certa forma também nos instigam a querer continuar lendo a obra.
Sabe aquele ditado, a vida imita a arte, de Aristóteles? Esse quadrinho, pensado em 2016, aborda assuntos que estão acontecendo hoje e de forma tão precisa quase como se fosse uma previsão. Ressalto que a reflexão por trás da obra é um mero uso da arte na sua melhor essência e que não devemos repudiar o quadrinho só porque não compactuamos com a tese do autor. Apesar da semelhança com a realidade, nem tudo no quadrinho acontece de verdade. Até porque não é esse o Brasil que queremos.
Outro detalhe que vale a pena ser ressaltado é o projeto editorial por trás dessa narrativa gráfica, mérito da própria editora, a Guará. O quadrinho começa como se fosse um jornal, uma ótima forma de contextualizar a narrativa do momento para o leitor. Em outras partes, a história sai dos quadrinhos para um site de notícias e até mesmo para carta/folheto.
Teocrasilia, em seu primeiro volume, consegue abordar vários assuntos em apenas 234 páginas. É interessante perceber como a narrativa distópica tem se transformado no queridinho dos leitores brasileiros e essa história tem mérito de apresentar e representar bem como é nosso cotidiano. É uma ótima leitura para você, leitor, que busca se aprofundar mais em assuntos políticos. Ou para você que quer apenas curtir um bom quadrinho no fim de semana, sem sombras de dúvidas é a escolha certa.
Teocrasília: O Fim da Inocência (Vol. 1)
MELLO, Vinícius
São Paulo: Editora Guará, 2021.
Nauberth Boeira ([email protected]): acadêmico do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves e membro da Associação da Biblioteca Municipal de Garibaldi/RS.
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