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[Se liga na dica!] “O sol também é uma estrela” é a sugestão de leitura da estudante Sophia Chagas


Ao longo do 3° trimestre letivo de 2022, os estudantes da turma do 2° ano do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio engajaram-se na produção de resenhas com o objetivo de compartilhar com a comunidade escolar dicas de livros, séries, filmes e álbuns musicais para preencher de cultura o período das férias.

A atividade ocorreu no âmbito da componente curricular Língua Portuguesa e Literatura II e constituiu etapa da implementação do projeto de pesquisa “O ensino e a aprendizagem da escrita pela reescrita: a interlocução a serviço da construção de conhecimento em língua portuguesa no ensino médio”, liderado pela professora Andréia Kanitz.

Nesta série de publicações, você terá acesso aos textos produzidos pelos estudantes, que escolheram resenhar produtos culturais diversos que compõem a cultura juvenil. Então, se liga na dica!

“Em um minuto há tempo para decisões e revisões”¹:
alerta para um livro cheio de reviravoltas


Por: Sophia Chagas

O livro O sol também é uma estrela, escrito por Nicola Yoon, traz de forma brilhante questões filosóficas fundamentais entrelaçadas a um romance de escrita simples e divertida. Ele foi traduzido por Alves Calado, publicado em português no ano de 2017 pela editora Arqueiro e possui classificação indicativa para maiores de 12 anos. Esse livro foi considerado Melhor Livro do Ano por Publishers Weekly e também foi finalista do National Book Awards em 2016.

Nicola Yoon nasceu na Jamaica, porém cresceu no Brooklyn e, atualmente, mora em Los Angeles. Seu primeiro livro, “Tudo e todas as coisas”, obteve grande sucesso e chegou a ser adaptado para o cinema. O sol também é uma estrela é seu segundo livro e igualmente também já foi adaptado para o cinema. Nicola tem como grande característica produzir seus livros com personagens principais de diferentes etnias, gêneros e sexualidades. O livro resenhado, por exemplo, tem como personagens principais uma menina jamaicana, Natasha Kingsley, e um menino coreano, Daniel Won Bae.

Na história, que se passa nas ruas de NY, Natasha sai de sua casa de manhã com uma missão impossível: impedir que sua família e ela sejam deportadas na noite do mesmo dia, visto que são imigrantes jamaicanos considerados ilegais. Enquanto isso, Daniel sai apenas para cortar o cabelo e ir a uma entrevista com um ex-aluno da faculdade na qual pretende ingressar. Antes de os dois se encontrarem, foram necessários infinitos pequenos acontecimentos desde a criação do universo até o momento em que Daniel avista Natasha dançando de olhos fechados na rua. Após encontrá-la, Daniel a segue para dentro de uma loja de discos antiga e conversa com ela sem muito sucesso. Porém, momentos depois, Natasha quase sofre um acidente ao tentar atravessar a rua e quem a salva, claro, é Daniel. A partir desse acontecimento, os dois conversam e a história se desenrola. Daniel acredita em destino, sinais e almas gêmeas, sendo assim movido por seus sentimentos. E não foi diferente quando conheceu Natasha.

Natasha, por outro lado, não acredita em sentimentos e nem nada disso. Em sua cabeça, as coisas podem ser facilmente justificadas em reações químicas e físicas, com explicações lógicas para tudo. A partir dessa intrigante diferença de modos de pensar, Natasha e Daniel interagem e discutem sobre o que existe e o que não existe, o que é fato e o que é opinião. O grande tema de suas discussões é a existência do amor. Daniel tem como missão do dia, a partir do momento que conheceu Natasha, fazê-la se apaixonar por ele, pois ele já está perdidamente apaixonado por ela. Natasha acha o rapaz intrigante, porém não procura criar laços, pois há chances de ela nunca mais vê-lo. A história se passa toda em apenas um longo dia, com um final feliz e triste ao mesmo tempo: Natasha se apaixona por Daniel, porém não consegue evitar a sua deportação.

O livro possui uma interessante construção, pois seus capítulos são divididos em diferentes pontos de vista dos personagens principais e de personagens secundários presentes no momento. Essas diferentes percepções sobre um mesmo momento são narradas em primeira pessoa pelos personagens. Trazer o ponto de vista de outros personagens e não apenas dos principais produz a sensação de realidade. Com isso, há uma quebra da ideia de tudo estar perfeito pelos olhos da pessoa apaixonada. Através da realidade presente na história, é mais fácil de se identificar com os personagens.

Inclusive, o livro contextualiza a história de acordo com o que é dito. Por exemplo, logo após os personagens discutirem sobre como as pessoas se apaixonam, há um capítulo intitulado “Amor” que explica didaticamente a reação de se apaixonar a partir dos hormônios liberados e reações químicas que são desencadeadas. É genial. Além de toda a história de romance, daquelas de “deixar o coração quentinho”, o livro também traz tópicos interessantíssimos que nunca pensaria sobre se não fosse a obra. Há frases capazes de mudar toda uma concepção sobre algo, como o trecho da página 164: “O destino sempre esteve no âmbito dos deuses, mas até os deuses estão sujeitos a eles”. Para mim, trouxe toda uma nova visão sobre o que está em nossas mãos e o que não está.

O livro faz jus a todas as suas indicações e prêmios. Afinal, é de fato algo diferente do comum. Nicola Yoon soube utilizar com maestria as palavras a fim de proporcionar reflexões bastante profundas em um texto simples. É um livro que muda as pessoas, as divide em antes e depois. Recomendo-o fortemente para interessados em uma leitura leve, capaz de expandir conhecimentos e mudar percepções.

 ¹A canção de amor de J. Alfred Prufrock, T.S. Eliot, citado no livro “O Sol Também É Uma Estrela”

 

O Sol Também É Uma Estrela
YOON, N.
Guarulhos: Editora Arqueiro, 2017.O Sol Também É Uma Estrela YOON, N. Guarulhos: Editora Arqueiro, 2017.


Sophia Chagas ([email protected]): acadêmica do 2º ano curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Administração no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves.


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