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De estudante para estudante: Victor Augusto Neris da Silva entrevista Maria Eduarda Altíssimo Medeiros


“Os projetos são experiências que agregam muito para a sua vida”, diz a Maria Eduarda Altíssimo Medeiros

A jovem pesquisadora fala da trajetória acadêmica, desenvolvimento de projetos, premiações e expectativas para seu futuro.


Por: Victor Augusto Neris da Silva
(2º ano do Curso Técnico em Administração)


Maria Eduarda Altíssimo Medeiros, hoje com 17 anos, nascida em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, após a conclusão do Ensino Fundamental em uma escola católica privada, ingressou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Sul – Campus Bento Gonçalves, onde participou de projeto premiado e reconhecido nacionalmente.

Seu principal trabalho foi “Marcas psicológicas que o regime civil-militar brasileiro deixou em crianças que foram sequestradas ou adotadas durante o período”, orientado pela professora Janine Trevisan e pelo professor Tiago Goulart. A aluna desenvolveu o mapeamento dos casos em artigos acadêmicos e obras literárias, procurando as motivações que todos os envolvidos tinham para fazer essas adoções e sequestros. O objetivo do trabalho foi procurar as marcas psicológicas que foram deixadas nessas crianças. O prêmio de Jovem Cientista Revolucionário e 3° lugar em humanas na Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec MS) são alguns dos prêmios ganhos com esse projeto.

Maria Eduarda Altíssimo Medeiros

A seguir, confira a entrevista com a Maria Eduarda.

Onde você estudou antes de ingressar no IFRS? Como você era como estudante?

Antes de estudar no IFRS, estudei por dez anos no Colégio Scalabriniano Medianeira, que é uma escola católica privada de Bento Gonçalves. Como estudante, eu sempre fui muito dedicada aos estudos. Prestava atenção nas aulas, estudava muito e participava de outras atividades extracurriculares. No IFRS, me mantive assim, só que agora tenho menos tempo para essas atividades extracurriculares.

Quando e por que surgiu seu interesse em ingressar no Campus Bento Gonçalves?

Na minha antiga escola, havia a tradição de fazer a prova do IFRS no último ano do Ensino Fundamental. Eu e alguns outros colegas fizemos cursinho para essa prova. O interesse surgiu principalmente pelo ensino, não por ser gratuito, mas pela sua qualidade e pelas oportunidades, como bolsas, viagens e o curso técnico integrado.

O que a levou a escolher o curso Técnico em Meio Ambiente? Quando você ingressou no curso, pensava atuar na área?

Minha mãe queria que eu fizesse Técnico em Enologia ou Técnico em Administração. Enquanto eu estava entre Técnico em Administração e o Técnico em Meio Ambiente. Eu preferia o curso de Administração por conta de ter mais ofertas de trabalho, por poder trabalhar em mais áreas. Me interessei pelo curso de Meio Ambiente porque sempre gostei bastante do assunto, me interessava pelas causas ambientais. Na perspectiva do trabalho, as ofertas vêm crescendo por conta das mudanças climáticas e outros problemas ambientais. No fim, optei pelo curso de Meio Ambiente.

Por quais motivos se interessou por participar de projetos de pesquisa/extensão no Campus? Como foi o processo de inscrição e seleção?

O projeto sobre a ditadura, que eu desenvolvi na disciplina de Metodologia Científica, não teve inscrição nem seleção, já que é necessário fazer um projeto para a conclusão do componente curricular. O que me impulsionou a fazê-lo foi que, em 2019, algumas pessoas estavam fazendo manifestação para a volta do AI-5. Eu até sabia o que era, mas não sabia como explicar. Então, resolvi propor e desenvolver um projeto sobre a ditadura.

Conte-me um pouco sobre esse projeto sobre a ditadura. Quais eram os objetivos? Quais foram os resultados alcançados?

No projeto “Marcas psicológicas que o regime civil-militar brasileiro deixou em crianças que foram sequestradas ou adotadas durante o período”, o objetivo era mapear os artigos acadêmicos e obras literárias que retratassem esse assunto, também procurar algumas das motivações que os envolvidos tinham para fazer essas adoções e sequestros e procurar quais foram algumas dessas marcas psicológicas que foram deixadas nessas crianças. Como resultados observamos que muitas dessas pessoas ainda sentem medo de ver aquele cenário no Brasil novamente. Se sentem constantemente perseguidas, têm pesadelos, desenvolveram ansiedade e depressão. Questionando quem foram as vítimas e o porquê da ditadura ter durado vinte anos, concluímos que a população se dividia em três grupos: os que sabiam da ditadura e que não faziam nada, vivendo os “anos de ouro” durante esse período; os que não sabiam da ditadura e que não eram afetados; e os que eram afetados, para os quais o período representou “anos de chumbo”.

Para desenvolver seu trabalho no âmbito do projeto, que tarefas você precisou realizar? Consultou muitos artigos acadêmicos, obras literárias e documentários?

Para o projeto sobre a ditadura eu li Brasil: nunca mais, Infância roubada: crianças atingidas pela ditadura Militar no Brasil, Memória e verdade: a justiça de transição no estado democrático brasileiro e vários artigos científicos. Assisti também a documentários e filmes para contextualizar a época. Quando estudamos história, não podemos apenas estudar o assunto em si. Precisamos do contexto em que ele acontece.

Você apresentou seus trabalhos em algum evento?

projeto sobre a ditadura apresentei na Mostra do Campus Osório. Depois disso, o professor Franco e a professora Janine apresentaram a possibilidade de participação na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC). Então, eu e meus colegas nos inscrevemos para participar. Conseguimos a participação com nosso projeto e também na maratona de inovação. Nessa maratona, deveríamos resolver um problema. Nós criamos um aplicativo para fazer doação para uma entidade e com isso ganhamos o 3° lugar. Na FBJC, ganhei o prêmio de Jovem Cientista Revolucionário e uma credencial para participar da Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec MS). Na Fetec MS, ganhei dois prêmios: 3° lugar em na área de Humanas e uma credencial para a Feira Brasileira de Iniciação Científica (Febic), em Santa Catarina, da qual não pude participar. Com esse projeto, pude participar de diversas feiras, por conta dos prêmios e credenciais que ganhava.

Como a sua participação no projeto influenciou no seu crescimento como estudante e como ser humano em formação? Que aprendizagens você destacaria?

Me influenciou em vários aspectos. Para as apresentações em eventos, sempre pedem um artigo, um resumo, um resumo expandido ou um vídeo. Você tem que aprender a sintetizar o conteúdo do trabalho. No artigo, você tem mais liberdade já que tem mais espaço para escrever, costumam ser 12 páginas. Mas num resumo expandido tem que resumir o trabalho inteiro em 3 páginas, para uma pesquisa de dois anos. Ou um resumo que tem 200 palavras para explicar todo o projeto. Neste processo, você aprende mais sobre o seu projeto porque você tem que captar a essência dele. Também aumenta o seu vocabulário e ajuda na interpretação de textos, por conta da leitura de artigos e livros. Aprendi a me sensibilizar, respeitar e ter empatia pelas histórias das pessoas no projeto sobre ditadura. Estou falando de traumas alheios, e traumas não são coisas fáceis de se falar. Esses traumas ainda serão publicados em um livro. É um assunto muito delicado. Essas participações me ensinaram a como pesquisar e a desenvolver o senso crítico. Precisa buscar diversas fontes para saber outros pontos de vista porque tudo carrega opinião. Os materiais de pesquisa se apresentam como fatos e você se encarrega de trazer o contexto a eles.

Você considera importante o desenvolvimento de pesquisas por alunos do Campus? De que forma essa experiência agrega na formação do estudante?

Acredito que seja importante, tanto pelo desenvolvimento pessoal quanto intelectual. Agrega na qualidade do ensino no Campus. Aprendemos mais com nossos colegas e de forma mais fácil. Essa troca de conhecimentos facilita o entendimento e expande o seu repertório de conhecimentos.

Quais são seus planos futuros? Você pretende continuar desenvolvendo projetos, participando de ações de pesquisa?

Para o futuro, estou entre a Faculdade de História e a Faculdade de Direito. Na História, eu continuaria a seguir esse caminho de pesquisas porque eu gosto. No Direito, eu utilizaria as pesquisas, mas utilizaria mais o curso técnico em Meio Ambiente.

Quais conselhos/dicas você daria a um estudante que está ingressando no Campus?

Minha dica seria participar de olimpíadas e de projetos, de ensino, extensão ou pesquisa, sem exceção. Isso abre muitas oportunidades de viagens de estudo, de formação de vínculos e de aprendizados. Muitas pessoas não sabem, mas isso conta muito para o currículo.

Deixe uma breve mensagem motivacional para quem está interessado em ingressar no Campus Bento Gonçalves e interessado em participar de projetos.

Para participar de projetos é necessário muita vontade, determinação e foco nos seus objetivos. Os projetos são algo a mais, não é algo obrigatório. Muitos podem pensar que é estresse a mais sem motivo, mas não é apenas isso. Os projetos são experiências que agregam muito para a sua vida. Participe porque você gosta. Não apenas para o currículo, mas para a sua aprendizagem e desenvolvimento.


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