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De estudante para estudante: Heloiza de Oliveira entrevista Allana Canacar Biscaia
“Eu me descobri como pessoa”, diz a bolsista Allana Canacar Biscaia
Entrevistada conta sobre suas paixões por projetos.
Por: Heloiza de Oliveira
(2º ano do Curso Técnico em Administração)
Quando era pequena, Allana Canacar Biscaia imaginava ser professora em alguma área de exatas. Hoje, com 17 anos, deseja continuar fazendo pesquisas. Foi no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves que Allana se interessou pela primeira vez por projetos de pesquisa.
Allana nasceu em Curitiba (PR), mas quando criança se mudou para Bento Gonçalves (RS). Depois de concluir seu ensino fundamental no Colégio Medianeira, ela conseguiu sua vaga no IFRS – Campus Bento Gonçalves, para cursar o Técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio. A partir desse momento, em apenas dois anos e meio, a estudante participou de vários projetos, que são:
- Preconceito Social entre Estudantes do Ensino Médio de Bento Gonçalves, sob orientação da Professora Janine Bendorovicz Trevisan;
- A Neurociência na Formação de Professores: um olhar para a Alfabetização, sob orientação do Professor Gregório Durlo Grisa;
- Preconceito e Padrões de Beleza: a relação e seus impactos nas meninas adolescentes da serra gaúcha, sob orientação da Professora Janine Bendorovicz Trevisan;
- Desenvolvimento de materiais – físicos e digitais – para educação STEM, sob orientação do Professor Diego Eduardo Lieban.
Veja a entrevista realizada com Allana:
Conte-me um pouco sobre a sua trajetória como estudante. Onde você estudou antes de ingressar no IFRS? Como você era como estudante?
Antes de estudar no IFRS, a partir do 4º ano, eu estudei no Colégio Nossa Senhora Medianeira, em Bento Gonçalves (RS). Antes disso, eu frequentava uma escola em Curitiba (PR). Sempre fui uma estudante muito boa e costumava falar a aula inteira. Eu era aquela pessoa que os professores diziam que estava tudo certo, mas conversava demais na aula. Sempre tive facilidade nas matérias. Só de prestar atenção e ouvir já compreendia a matéria. Sempre tirei notas boas.
Por que você escolheu o curso Técnico em Meio Ambiente? O que te levou a escolher essa área técnica?
Na época, foi por eliminação, pois eu não pretendo ficar em Bento Gonçalves. Pensei em Agropecuária e Enologia, que são cursos mais fortes aqui em Bento Gonçalves. O Curso Técnico em Administração não me lembrava no momento, então pensei em Meio Ambiente, um curso no qual eu teria oportunidades em qualquer área do mercado, principalmente em cidades grandes que são os locais para onde pretendo ir. Para mim fez sentido escolher Meio Ambiente. Sempre gostei de cuidar de plantas e animais, mas nunca pensei que gostaria de cursar essa área.
O que te levou a participar de projetos de pesquisa/extensão no Campus? Por quais motivos se interessou em participar? Quais eram suas expectativas?
Como eu fiz Meio Ambiente, uma das matérias que a gente tinha no 1º ano era Metodologia Científica. A gente precisou criar um projeto e escolher um tema para desenvolvê-lo. Eu fiz sobre “Preconceito Social entre os Estudantes do Ensino Médio de Bento Gonçalves”. Eu gostei de fazer aquele projeto de pesquisa, me interessei, achei legal. No mesmo ano, abriu uma seleção para bolsistas de projeto. Eu olhei os projetos que me interessavam e me inscrevi. Consegui a bolsa no projeto de “Neurociência na Formação de Professores na Alfabetização”. No outro ano, eu continuei com o projeto sobre preconceito social e juntei com o projeto da minha amiga que era sobre padrões de beleza. Unimos os dois temas, pois eram assuntos parecidos e comparamos a relação entre os dois. O nome do novo projeto ficou: “Preconceito e Padrão de Beleza: a relação e seus impactos nas meninas adolescentes da Serra Gaúcha”. Além disso, continuei com o projeto sobre neurociência que eu queria continuar por mais um ano. No mesmo Edital, eu vi o projeto “Desenvolvimento de Materiais Físicos e Digitais para Educação STEM” (termo em inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics, que significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), que é o que a gente faz no Pipa Maker do IFRS. Achei legal e me inscrevi. No fim, decidi fazer os três projetos. Agora, nesse ano, finalizamos o projeto de neurociência e irei continuar com o projeto sobre preconceito e padrão de beleza e o projeto sobre educação STEM.
Conte-me um pouco sobre os projetos. O que você achou mais legal?
O que eu acho mais legal desses projetos é essa parte de apresentar nas mostras, fazer vídeos e também por todos serem de metodologias diferentes. Para o projeto “Preconceito e Padrões de Beleza: a relação e seus impactos nas meninas adolescentes da Serra Gaúcha”, fizemos questionários e realizamos entrevistas. No projeto de neurociência, eu precisei ler muito, fizemos um material didático e criamos questionários. No projeto sobre educação STEM, tive que aprender a trabalhar com as máquinas (impressora 3D e a cortadora a laser) e produzir os materiais. Apesar de serem três projetos de pesquisa, os três foram muito diferentes e eu gostei muito de ter feito os três. Em geral, acredito que cresci muito como bolsista, pois quando você realiza as pesquisas de diferentes tipos, você tem uma noção geral de várias coisas e também aprende muita coisa. Eu tinha muita dificuldade na escrita e com as pesquisas eu fui melhorando-a. Fazer um projeto é muito difícil. Algumas horas é bem estressante e desafiador. Quando a gente foi criar pela primeira vez o projeto sobre preconceito, eu não sabia fazer aquilo, ficar cinco ou seis horas escrevendo um resumo. Agora para mim é fácil. Acredito que seja um crescimento muito grande. Acho sensacional e eu amo esses projetos. Por isso continuei, mas foi algo bem difícil.
A pandemia da Covid-19 te trouxe dificuldades?
Acho que durante a pandemia consegui organizar melhor o meu tempo, pois eu organizava minhas horas de estudo. Agora, por exemplo, eu preciso ir para aula todos os dias e ficar o dia todo. Durante o período das aulas remotas, não era assim. Se eu entendia o conteúdo de matemática, eu não precisava ficar assistindo às aulas. Acredito que para mim facilitou nesse sentido. No final do primeiro trimestre, eu me estressei. Eu não aguentava mais olhar para o computador, não queria fazer mais nada. Descansava uma semana, depois voltava e tudo certo. Eu gostava de fazer, não era algo ruim, mas realmente estava cansada de olhar apenas para o computador. Depois, quando voltou às aulas presenciais, eu comecei a achar melhor, mas mesmo assim, no 2° ano, era puxado ficar só no computador, mas era bom, pois eu conseguia organizar meu tempo.
Você realizou o projeto sobre “Padrões de Beleza: a relação e seus impactos nas meninas adolescentes na Serra Gaúcha”. Conte-me mais sobre ele. Você concorreu a algum prêmio? O projeto está tendo sucesso?
No começo, fizemos a criação e o detalhamento do projeto. Começamos realizando a leitura de artigos, lemos vários materiais. Logo a gente submeteu um resumo para uma Mostra de Pesquisa, Extensão e Ensino (Moexp) do IFRS – Campus Osório, falando somente sobre a relação entre preconceito e padrões de beleza. Chegamos a nos apresentar e ganhamos destaque. Tivemos que elaborar um artigo para o evento. Depois disso, continuamos com a leitura de materiais e começamos a criar um questionário para ser aplicado de forma on-line, com perguntas subjetivas. Obtivemos aproximadamente 150 respostas. Conseguimos entrar em contato com as voluntárias e marcamos várias entrevistas para nos aprofundarmos no assunto. A gente entrevistou cerca de 10 meninas e conseguimos um material bem legal, com muitos relatos reais. Após a entrevista, fizemos a análise junto com o questionário e escrevemos um artigo que vai ser publicado no livro de Ciências Sociais do IFRS – Bento Gonçalves. O artigo está muito legal, mas não posso falar muito sobre ele, pois não foi publicado ainda. Depois nos inscrevemos para a FBJC (Feira Brasileira de Jovens Cientistas) e, no final de março, tivemos que nos submeter às primeiras etapas. Fomos aceitas como finalistas, tivemos que enviar materiais e escrever um resumo expandido com base no artigo e também fizemos um vídeo de apresentação para divulgação. Além disso, criamos um perfil do projeto no Instagram. Ainda há pouco material publicado, pois não tivemos muito tempo para focar nas postagens, mas esse vai ser nosso meio de divulgação.
Como a sua participação no projeto influenciou no seu crescimento como estudante e como ser humano em formação?
Acredito que cresci muito na escrita. Eu sentia muita dificuldade. A prática de pesquisa me ajudou e fui melhorando. Outro aspecto é que, no 1º ano do Ensino Médio e antes, eu costumava procrastinar demais. Quando resolvi me inscrever nos projetos, minha mãe havia falado para eu abrir mão de algumas coisas. Ao invés de abrir mão dos projetos, eu abri mão da procrastinação e foi maravilhoso. Foi difícil, mas agora eu não sou assim e isso me ajudou muito no meu crescimento pessoal e profissional. Agora eu tenho uma organização para não deixar as coisas para última hora. Portanto, foi um crescimento muito grande. Eu era muita bagunceira e aprendi a me organizar. Acredito que eu tenha virado outra estudante.
Você considera importante o desenvolvimento de pesquisa por alunos no Campus? De que forma essa experiência agrega na formação do estudante?
Acho que é muito importante, porque tanto na minha experiência e de outras pessoas que já escutei, sempre foram experiências muito boas, proveitosas e com pesquisas interessantes. Acho que sempre é um ponto positivo. Me ajudou muito no crescimento e acredito que ajudaria as outras pessoas e estudantes que participarem. Não é apenas um projeto, existem vários. Quem for fazer faculdade, isso também irá influenciar. Tem gente que chega na faculdade e não sabe nem escrever direito. Quando você tem essa bagagem, automaticamente você sabe fazer melhor as tarefas acadêmicas, ou seja, facilita muito e é uma experiência muito boa. Você consegue ver outras oportunidades no Ensino Médio. É um dos pontos mais positivos do IFRS. Por exemplo, eu nunca iria ter contato com a neurociência se não fosse o projeto do qual participei. Eu acredito que os projetos que a instituição oferece para os alunos adquirirem conhecimento é algo extremamente positivo.
Você acha que a sua participação no projeto produziu impactos sobre as suas escolhas para o futuro? De que modo?
Acho que sim. Por exemplo, eu descobri que gosto de trabalhar na área de pesquisa. Antes, quando eu entrei no IFRS, eu tinha a ideia de ser professora de física ou matemática. Apesar da maioria dos meus projetos serem da parte de Humanas. Eu estava pensando em alguma outra oportunidade, pois é um mercado difícil aqui no Brasil, porque é mal remunerado. Então comecei a pensar em outras profissões. Como eu gosto de pesquisas, estou pensando em ir para alguma engenharia para a parte ambiental, química ou florestal. Eu me descobri como pessoa, descobri que gosto dessa escolha. Claro que no futuro eu penso primeiro em fazer um mestrado, doutorado e depois ir dar aulas, mas descobri que gosto disso por conta dos projetos. Isso me ajudou e também pude conhecer outras áreas.
Você pretende continuar desenvolvendo projetos, participando de ações de pesquisa?
Acredito que sim. Eu vou continuar nesses projetos e como pretendo participar nessa área de engenharia, provavelmente eu siga nessa área de pesquisa. Imagino que em qualquer universidade que eu for fazer, elas provavelmente terão essa parte de pesquisa, portanto imagino que eu siga desenvolvendo algumas. Ou seja, enquanto eu estiver estudando, eu pretendo seguir.
Quais conselhos e dicas você daria a um estudante que está ingressando no Campus?
Já aconselhei uma colega da minha irmã que tinha a oportunidade de estudar em uma escola privada: “no IFRS você terá mais oportunidades”. Acho que isso é o principal do IFRS: são as oportunidades que você tem, pois você sai com um curso técnico. Você pode ter a oportunidade de participar de alguma pesquisa, de escrever e até publicar algo. Se você está em busca desse tipo de oportunidade, o IFRS é o melhor lugar. Realmente é esse conselho que eu dou.
Entrevistas das semanas anteriores:
- “Eu aprendi a me identificar como ser humano”, diz Juan Farias sobre sua experiência de participação em projetos no Campus Bento Gonçalves do IFRS(Juan Alexandre Pereira Farias é entrevistado por Gabrielle Ferronato Lütz)
- Estudante fala sobre suas experiências como participante de projetos promovidos pelo IFRS (Júlia Paese Faccin é entrevistada por Eduardo Franceschina Nunes)
- Tecnologias no Campus Bento Gonçalves proporcionam mais oportunidades para os estudantes(Brenda Luísa Dupont Sauthier é entrevistada por Ana Carolina Piacentini)
- A participação em projetos do IF é capaz de alterar o caminho a se seguir como profissional (Emanuela Marcon Bagnara é entrevistada por Sophia Chagas)