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[Se liga na dica!] Estudante Ana Carolina Piacentini recomenda o livro “A Odisseia de Penélope”


Ana Carolina Piacentini, estudante do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, compartilha a resenha do livro A Odisseia de Penélope: O mito de Penélope e Odisseu.

O trabalho foi elaborado no 3° trimestre letivo de 2022, na componente curricular Língua Portuguesa e Literatura II e constituiu etapa da implementação do projeto de pesquisa “O ensino e a aprendizagem da escrita pela reescrita: a interlocução a serviço da construção de conhecimento em língua portuguesa no ensino médio”, liderado pela professora Andréia Kanitz.

Na ocasião, os alunos produziram resenhas com o objetivo de compartilhar com a comunidade escolar dicas de livros, séries, filmes e álbuns musicais para o período das férias letivas. A cada dois dias, publicaremos aqui um desses trabalhos.

Então, se liga na dica!

A Odisseia das Mulheres:
tecendo a história de Penélope


Por: Ana Carolina Piacentini

O livro A Odisseia de Penélope: O mito de Penélope e Odisseu é uma releitura da Odisseia de Homero sob o ponto de vista de Penélope, esposa de Odisseu. Nesta obra, a autora, Margaret Atwood, dá voz de forma belíssima às personagens femininas que são deixadas à margem da sociedade e silenciadas por todos na obra de Homero e na própria civilização grega antiga. Lançado em 2005 no Brasil pela Editora Companhia das Letras, com a tradução de Celso Nogueira, o livro possui 160 páginas divididas em 29 capítulos, configurando uma leitura tranquila, divertida e ao mesmo tempo impactante. Apesar disso, Margaret traz à tona muitas discussões acerca de questões sociais como gênero e classe.

Margaret Atwood é uma das mais relevantes autoras da atualidade. Com 83 anos, é uma escritora canadense, romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária internacionalmente reconhecida, que recebeu inúmeros prêmios literários importantes. Margaret foi agraciada com a Ordem do Canadá, a mais alta distinção em seu país. Além disso, um de seus livros de maior sucesso é O conto da aia, publicado em 1985, que já vendeu milhões de cópias no mundo todo. Nesse livro, assim como na Odisseia de Penélope, Margaret aborda temas como a representatividade, o lugar e os direitos das mulheres.

No livro resenhado, Margaret conta a história de Penélope, esposa de Odisseu, no período em que Odisseu esteve na guerra de Tróia até o seu retorno. Ao longo do livro, Penélope e as escravas têm a oportunidade de mostrar seu ponto de vista em relação às suas condições de vida. Penélope, como narradora principal, relata seu relacionamento com o filho Telêmaco e com as escravas, além de todas as dificuldades enfrentadas por ela na ausência do marido. Por outro lado, a cada três capítulos narrados por Penélope, as servas cantam sua história em coro, ou seja, em formato poético, o que torna seu relato mais dramático e marcante.

Na Odisséia de Homero, Penélope é descrita como o exemplo de esposa fiel e perfeita, submissa e paciente. Em contraponto à obra de Homero, A Odisseia de Penélope desconstrói muito do que foi dito a respeito de Odisseu e sua viagem. Penélope mostra que sempre soube a verdade por trás das ações de Odisseu e que não era tão submissa quanto parecia, embora muitas vezes agisse dessa forma pois era a atitude esperada das mulheres gregas da época. Além de chorar e orar pelo retorno de Odisseu, ela engana astuciosamente os pretendentes que estão no seu palácio, dilapidando seu patrimônio na tentativa de forçá-la a se casar com um deles. Penélope os ilude com falsas promessas, tece uma mortalha que desfaz de noite e, assim, posterga a decisão sobre com quem iria se casar.

Antes de Penélope tomar qualquer decisão, Odisseu retorna a Ítaca disfarçado de mendigo com a ajuda constante da deusa Palas Atena e, com o auxílio de Telêmaco, mata todos os pretendentes. O que acontece após é ainda mais desconcertante. Doze servas são obrigadas a limparem os restos dos seus supostos amantes e no final também são mortas. Telêmaco, na tentativa de impressionar seu pai, enforca as escravas uma após a outra. Enforcamento motivado por uma suposta traição. Mas o que realmente levou ao enforcamento? Qual é a relação de Penélope com esse acontecimento? De forma irônica, a autora questiona os comportamentos dos homens em geral, mas também os da própria Penélope que, como mulher nobre, possui mais direitos e proteção do que suas servas.

Ademais, Margaret mantém a rivalidade feminina existente entre Penélope e sua prima Helena. Inveja existente porque Helena, apesar de muitas vezes agir de maneira considerada “imprópria”, possui características as quais os homens apreciam e por isso se safa de todos os problemas que inicia. Penélope questiona sua posição enquanto mulher na sociedade dominada pelo patriarcado. Mostra as injustiças que sofre e as situações às quais ela é submetida. Por outro lado, as escravas se mostram ainda mais indignadas. Elas pedem justiça pelos abusos que sofreram e pela forma como foram mortas.

Com uma escrita cativante, rica de diversos elementos e com alguma ironia, Margaret une mitologia antiga de um livro clássico como a Odisseia com uma visão feminista, fazendo um contraponto com os dias atuais. Estimula diversas reflexões sobre gênero e como essa categoria cria desigualdades de poder entre homens e mulheres e, além disso, destaca as diferentes obrigações e opressões sofridas conforme a classe social à qual essas mulheres pertenciam. O resultado é um livro divertido e provocante que tem um enorme potencial de motivar os jovens a voltarem a ler um grande clássico da literatura universal, a obra Odisseia de Homero.

A odisseia de Penélope: O mito de Penélope e Odisseu 
ATWOOD, Margaret 
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Capa do livro A odisseia de Penélope: O mito de Penélope e Odisseu  ATWOOD, Margaret  São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

 


Ana Carolina Piacentini ([email protected]): acadêmica do 2º ano curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Administração no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves.


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