Geral
Cuidados naturais com a saúde
Utilizando modelos alternativos no atendimento básico de estudantes que buscam o setor de enfermagem em mais de 600 atendimentos realizados todos os meses. Ela também utiliza essa experiência adquirida também compartilhada como palestrante em eventos, coordenadora em projetos de ensino e extensão e ministrando cursos junto a saúde básica de municípios da região. A entrevistada é Raquel Franzen de Ávila, técnica em enfermagem no campus Bento Gonçalves desde 2012.
Desde que você chegou ao campus em 2012 você mostrou interesse em utilizar plantas medicinais ou não-convencionais no atendimento a estudantes e servidores que procuram o Setor de Enfermagem do campus. O que lhe despertou fazer uso dessas plantas?
Sim, ao ver as plantas medicinais disponíveis na horta, me despertou o planejamento para iniciar um cuidado naturopáticos com a comunidade interna do campus, pois naquele momento a metodologia de “farmácia viva” era possível. Hoje permanecemos com a fitoterapia no cuidado em saúde, com a sua aplicação em 65% dos casos e trabalhamos com um viés educacional nos moldes biogênicos em saúde.
Você participa como instrutora em diversos cursos promovidos pelo campus, em parceria com a Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves e outros municípios próximos. Que benefícios você vê para a as secretarias de saúde municipais, postos de saúde etc., que seus profissionais conheçam os benefícios das plantas medicinais e seu uso?
As Secretarias de Educação e Saúde visam trabalhar em consonâncias com as Diretrizes Básicas da Saúde e está previsto e educação permanente para a alimentação saudável e cuidados natural em saúde. Já está entendido por estas entidades que a população sofre com a má alimentação (maior causas de doenças da população é a alimentação inapropriada), com a falta de medicação e com o uso abusivo de fármacos sintéticos. As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) vem trabalhando o resgate cultural, promoção, educação para o cuidado e autocuidado natural utilizando-se de ervas medicinais, com embasamentos científicos. Capacitar e qualificar “agentes de saúde” (médicos, enfermeiros, dentistas…) demonstra forte relevância, pois é nos “postos de saúde” o primeiro local de procura para a promoção de saúde (Você está doente e quer que o médico e a enfermeira te ensinem a “se curar”!) e estes profissionais irão orientar a população no cuidado e o uso alternativo/complementar da fitoterapia, pois esta PIC é mais frequente em relação as demais 19 práticas complementares e muito se deve tradição do uso de plantas medicinais em contexto mundial.
Ainda há muito preconceito quanto ao uso das plantas medicinais em tratamentos médicos, mas é bem menor do que víamos no passado, onde isso parecia “coisa da vovó”. Como é lidar com esse preconceito e que estratégias são utilizadas para romper essas barreiras?
Ainda há muito preconceito sobre o uso da fitoterapia, em especial a in natura, mas muito se deve ao fato de os profissionais não terem o conhecimento sobre as monografias das plantas medicinais e mementos fitoterápicos para orientar o cuidado natural. Com o crescimento do mercado mundial dos fitoterápicos acredito que este quadro se reverta. O meio que escolhi para trabalhar na educação popular, foi o método natural de cuidado e me envolver em projetos de pesquisa e extensão, fortalecendo a educação popular por meios das ações de extensão junto à comunidade, capacitando Estratégias de Saúde da Família, palestrando em eventos nas universidades para estudantes de enfermagem, capacitando agentes de saúde pois que estes são a linha de frente na educação popular. Nas escolas trabalho a orientação da alimentação mais natural possível (alimento livre de agrotóxicos e se possível orgânicos), orientação para o uso adequado dos chás e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) como uma alternativa de alimento complementar na trivialidade culinária e conquista da soberania alimentar. Nesta linha de educação alimentar na saúde tem muito preconceito. Vou comer o inço, praga, flor ou mato? As flores são as PANC mais difíceis de quebrar o tabu, pois há alegação de que “vai estragar meu jardim”, daí falo brincando: você vai estragar seu jardim de alfaces para comer? A natureza nos oferece “n” possibilidades, devemos utilizá-la em prol da saúde e do bem-estar! “Que seu alimento seja seu único remédio!” (Hipócrates, a.C).
Raquel Margarete Franzen de Ávila é técnica em enfermagem e possui Licenciatura em Ciências Biológicas e especialização em Gestão em Estratégia de Saúde da Família. Coordenou o Programa de Extensão Plantas Medicinais e atualmente coordena uma série de cursos vinculados ao mesmo programa em parceria com prefeituras da região.