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Entre acolhimento e informação: ação discute dignidade menstrual com alunas residentes


Falar sobre menstruação ainda é um desafio em muitos contextos. Marcado por tabus e silêncios, o tema afeta diretamente a vida de pessoas que menstruam, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. Com o objetivo de acolher e informar, o Departamento de Assistência Estudantil do Campus Sertão promoveu, na segunda-feira, 16 de junho, uma atividade com estudantes dos cursos técnicos integrados que residem no campus.

O encontro foi realizado às 17h30min, no salão da residência estudantil, e teve como público as alunas do primeiro ano. A ação foi uma iniciativa do projeto de ensino Eventos de Sensibilização: Diversidade e Inclusão, organizada pela assistente social Vanessa Neckel e pela técnica em enfermagem Cristina Souza França, com a proposta de criar um espaço de diálogo aberto, acolhedor e educativo sobre dignidade menstrual. A programação incluiu uma oficina de confecção de porta-absorventes individuais em feltro, conduzida pela professora Lilian Claudia Xavier Cordeiro. Cada participante pôde personalizar sua peça, unindo criatividade e cuidado com a saúde.

O momento de troca também contou com chá e bolo, preparados pelo restaurante do campus, em um ambiente pensado para promover escuta e partilha. “A proposta foi fazer um chá da tarde para recordar o chá das avós e proporcionar o mesmo clima aconchegante”, explicou Vanessa.

Mais do que discutir o uso de absorventes, o encontro foi uma oportunidade de ouvir as estudantes. A iniciativa integra as ações da Assistência Estudantil voltadas à permanência e ao êxito acadêmico, especialmente no contexto da residência. Segundo Vanessa e Cristina, a atividade foi construída “por muitas mãos” ou, como elas definem, por “mãos amigas” que abraçaram a ideia e contribuíram para sua realização.

Saúde menstrual

A técnica em enfermagem Cristina Souza França conduziu um diálogo sobre saúde menstrual com as estudantes da residência, abordando o funcionamento do ciclo menstrual, métodos contraceptivos, cuidados com o corpo e higiene íntima. “Buscamos criar um espaço de diálogo para que, sempre que as estudantes tiverem dúvidas, possam nos procurar”, destacou Cristina.

Ela explicou que é comum que pessoas que menstruam desconheçam o próprio ciclo e como ele impacta o cotidiano, afetando aspectos como saúde física, disposição e autoestima. “Tentamos chamar atenção para a importância de conhecer o próprio corpo e lidar da melhor forma possível com as suas transformações”, acrescentou.

Cristina lembrou que, em média, os ciclos menstruais duram 28 dias, com sangramento entre cinco e sete dias, embora essa duração possa variar. Durante o período menstrual, cuidados específicos com a higiene íntima são fundamentais para garantir conforto, bem-estar e prevenção de doenças. A recomendação inclui práticas de autocuidado como higiene adequada, uso de roupas leves, boa hidratação e alimentação equilibrada.

O cuidado inadequado com a menstruação pode gerar problemas como alergias, irritações na pele, infecções urogenitais e impactos emocionais, como desconforto, insegurança e estresse.

Segundo Cristina, é comum o relato de cólicas moderadas a intensas e o uso de medicamentos para aliviá-las. Como forma de cuidado alternativo, foram distribuídos compostos de chá com propriedades anti-inflamatórias e calmantes. “Com o apoio do projeto Farmácia Verde, do Campus Bento Gonçalves, produzimos misturas com lavanda, camomila e mil-folhas, entregues em saquinhos individuais para cada participante”, contou.

Para além de planilhas 

A chamada “pobreza menstrual”, caracterizada pela falta de acesso a absorventes, informações e condições adequadas de higiene, impacta a saúde, a autoestima e até a permanência nos estudos. Desde maio de 2022, com a publicação da Instrução Normativa nº 01, o IFRS passou a distribuir gratuitamente absorventes higiênicos e coletores menstruais às pessoas que menstruam. Para solicitar, basta preencher um formulário online, utilizado para mapear a demanda e organizar a distribuição dos itens no campus. O levantamento é realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade (NEPGS).

Os dados das edições anteriores indicam que a menstruação ainda é um tema cercado de tabus. A partir da análise das respostas, integrantes do projeto de educação Eventos de Sensibilização: Diversidade e Inclusão perceberam a necessidade de ir além das planilhas e propor ações de acolhimento e orientação. Segundo a assistente social Vanessa Neckel, 76% das participantes informaram, no formulário anterior, que escondem o absorvente por vergonha. “O tema ainda é um tabu”, afirma.

Vanessa também destaca o engajamento das estudantes na ação. “Ficamos muito felizes com a adesão das residentes, mobilizadas pela coordenadora da residência, Cassiele de Barros da Luz, e com a empolgação na produção dos porta-absorventes”, relata. A proposta é realizar novas atividades semelhantes sempre que possível.

Distribuição de absorventes em 2025

O cadastramento para a distribuição no segundo semestre deve ser feito até o final do mês de julho pelo formulário https://forms.gle/17pLxACSA1MvUh9X6. Após o cadastramento, as próximas instruções serão encaminhadas no e-mail institucional de cada respondente. Estudantes de todos os cursos podem preencher o formulário.

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