Especial
Turma de 1973 comemora cinquentenário da formatura no curso Técnico Agrícola
O que significa meio século na/da história? Esse é o marco temporal atingido pela segunda turma de formandos do curso Técnico Agrícola do antigo Colégio Agrícola de Sertão que no mês de julho completou 50 anos da formatura. Para se ter uma ideia, ao longo dos últimos 50 anos, a história da humanidade testemunhou mudanças profundas e revolucionárias em diversos campos, desde a música até a política e a tecnologia. A década de 70, que marca a formatura da turma, foi de uma efervescência cultural sem precedentes. O período também marcou o nascimento de uma revolução tecnológica. Em 15 de novembro de 1971, a Intel lançou o primeiro microprocessador do mundo, pavimentando o caminho para a era digital. Enquanto a tecnologia avançava, a televisão começava a se tornar acessível ao público no final dos anos 70, alterando a forma como as pessoas consumiam informações e entretenimento.
O fim da ditadura militar no país e a reabertura democrática (1985), a Queda do Muro de Berlim (1989), o início da comercialização da soja transgênica (1991), o lançamento do Plano Real (1994), a primeira clonagem de um mamífero (1995), os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o surgimento e a popularização da internet e dos aparelhos de telefonia móvel, a pandemia de Covid-19 em 2020, tudo isso aconteceu nesse intervalo de 50 anos. Atingir o cinquentenário, realmente, é um marco que precisa ser lembrado.
E foi essa percepção que levou alguns egressos de 1973 a darem início ao movimento para reunir os colegas e planejar uma programação especial para o cinquentenário da formatura. Dentre esses egressos, está Ademir de Oliveira, residente em Pato Branco (PR), administrador e pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing pela UFPR e em Gestão Estratégica de RH pela UFSC. Quando participou do Encontro de Ex-Alunos de 2019, ao visitar a galeria de quadros de formatura, percebeu que não havia nenhum referente a turma de 1973. Foi então que surgiu a ideia de reunir os ex-colegas para comemorar os 50 anos da formatura e afixar o quadro dos formandos 1973.
“Formamos o grupo e começamos a levantar ideias para o evento”, conta. Além de Ademir, juntaram-se ao grupo como organizadores os egressos Clotilde Bernieri, Ivon Job Costa e Nelso Bassani. “Assim que definimos a realização do encontro, começamos a busca pelos ex-colegas da turma por meio de conhecidos e pelas redes sociais. Só não foi possível localizar três colegas. Os demais foram todos localizados e convidados” acrescenta. Também foram convidados professores e funcionários da época e colegas de outras turmas contemporâneas.
O reencontro foi realizado nos dias 28 e 29 de julho. Na sexta-feira à tarde, um grupo de cerca de 20 egressos foi recepcionado pelo Diretor-Geral do Campus, Odair José Spenthof e pelos professores durante uma formação docente. Os egressos foram convidados a participar da abertura da formação, sendo recebidos com muitas palmas. Um momento bastante emocionante para todos, principalmente porque os egressos foram surpreendidos com a homenagem.
Celso Renato Roething, 71 anos, se sensibilizou com a surpresa. Ao contar sua história no Campus, não conteve o choro. Filho da servidora Hedvig Roething que atuou na cozinha e na limpeza, Celso viveu a Instituição de muitas formas. Natural de Engenho D’Água, mudou-se para Sertão e morou dentro da Instituição com a mãe. “A cozinha estava localizada onde hoje é o ginásio e o diretor da época mandou construir dois cômodos para eu e minha mãe morarmos. No colégio a gente estudava muito e trabalhava duro. Fazíamos tudo no braço”, conta. Celso formou-se e foi para São Paulo. Atualmente, reside em Osasco e viajou para Sertão especialmente para participar do reencontro. “A gente foi moldado por essa Instituição. A base de tudo que sou hoje veio dela”, assegura. Conforme Celso, o que mais chamou atenção foram as mudanças. “Mas para nós será sempre o Colégio Agrícola de Sertão”, comenta.
Também bastante emocionado, Ademir de Oliveira destaca que a Instituição foi uma base para todos que passaram por ela. “Aqueles corredores parecem falar com a gente. O Colégio Agrícola de Sertão (CAS) é mais que uma instituição, é uma entidade que consegue passar valores, princípios e crenças que ficaram impregnados em nós”, comenta Ademir de Oliveira.
Após a surpresa, o Diretor-Geral acompanhou os egressos num passeio pelo Campus, batizado de “tour da saudade“. A intenção foi proporcionar uma experiência de relembrar os momentos da época de estudante e, ao mesmo tempo, demonstrar as mudanças e o crescimento da Instituição. No passeio, do qual também participou o ex-professor Jarbas Ghellen, o grupo passou pelo Memorial do Campus e visitou a exposição permanente Fragmentos da Nossa História. Os egressos foram recebidos pela docente Elisa Iop, pelo bibliotecário Victor de Carvalho Gonçalves e pelo tecnólogo em Gestão Pública Elias Camargo, integrantes do Núcleo de Memória. Na visita, a turma pôde rever fotos, uniformes, objetos antigos e documentos desde a época de criação da Instituição.
Finalizado o tour, os egressos participaram de um momento solene de descerramento da placa/quadro do cinquentenário da formatura na galeria de quadros do Campus.
Fez parte das atividades comemorativas, ainda, um almoço no Esporte Piscina Clube de Sertão no sábado, 29 de julho. Antes do almoço, cada egresso relatou sua trajetória de vida após deixar o Colégio Agrícola. Estiveram presentes, na ocasião, familiares da turma, o Diretor-Geral do Campus Odair José Spenthof, o docente de História Roberto Sander e os ex-professores Geni Barbosa e João Urbano Gracioli, o qual emocionou-se ao rever a turma. “A instituição representa não só minha formação profissionalizante, mas minha formação integral, como pessoa. Fui aluno do ginásio, do Técnico Agrícola e ingressei como professor. Foram anos e anos dedicados à instituição. É muita emoção reviver tantas lembranças”, aponta.
Egressos que participaram da comemoração do cinquentenário da formatura da turma de 1973:
Egressos |
Residência |
Ademar De Oliveira | Marau – RS |
Ademir De Oliveira | Pato Branco – PR |
Ari Lorenz | Soledade – RS |
Carlos Alberto Buzachi | Lauro De Freitas – BA |
Carlos Dos Santos | Passo Fundo – RS |
Celso Renato Roethig | Osasco – SP |
Claudir Vedana | Bom Progresso – RS |
Clotilde Bernieri | Sertão – RS |
Elfo Seitenfus | Concórdia – SC |
Filipe Somensi Do Prado | Panambi – RS |
Ivanir Dal Zotto | Ibiraiaras – RS |
Ivon Job Costa | Xanxerê – SC |
João Manoel Rodrigues | Uberaba – MG |
Junior Edison Colla | Passo Fundo – RS |
Mário Limberger | Porto Alegre -RS |
Miguel Dutra Leite | Ibiraiaras – RS |
Nadir Tedesco | Santo Antônio Do Palma – RS |
Nelso Bassani | Toledo – PR |
Ronei José Tres | Bocaiva Do Sul -PR |
Telmo Dos Santos Freitas | Sertão – RS |
Vilmar José Tagliari | Santa Maria – RS |
Sérgio Oliveira Da Silva* | Passo Fundo – RS |
Edison W. Veleda* | Florianópolis – SC |
Histórias
Grande parte dos estudantes da época permanecia 7 anos e meio na Instituição, pois ingressava no curso ginasial e na sequência realizava o curso Técnico Agrícola. A convivência diária e intensa marcou a vida dos egressos que, muitas vezes, passavam os finais de semana na Instituição e, devido a distância de suas casas, demoravam para retornar e rever a família. Tais condições propiciaram a criação de laços muito fortes de amizade, de irmandade.
Dentre as muitas histórias (publicáveis e impublicáveis) que surgiram no reencontro, os egressos de 1973 relataram que foram pioneiros na Instituição. Afinal, foi o grupo que construiu por meio de enxadas e picaretas os patamares da horta que permanecem até os dias atuais. Inclusive, o calçamento em frente ao prédio central foi feito pela turma também.
“Tentei participar de dois projetos, mas nenhum deu certo. Em um projeto de apicultura, aprendi que não se deve abrir a caixa de abelhas antes de todos colocarem a roupa especial. Foi exatamente o que um colega fez antes que eu terminasse de me vestir. Mais tarde, atendi ao convite de outro colega para integrar um projeto de cultivo de tomates. Ele já havia feito a plantação e queria auxílio para investigar o porquê os pés não estavam desenvolvendo. O projeto de plantação de tomates terminou assim que cheguei na horta, pois vi que não eram tomates, mas rabanetes”, diverte-se Ademir.
Trajetórias de destaque
Ao relatarem sua trajetória no almoço de sábado, 29 de julho, chamou atenção o percurso de destaque que os egressos trilharam. Seja na área agrícola ou em outras áreas, a turma teve atuação profissional marcante e representativa em suas comunidades. O egresso Mário Limberger aponta o motivo: “os verdadeiros líderes despontam nas situações de adversidade e é por isso que da Instituição saíram muitos líderes, empreendedores e sujeitos que fazem a diferença na sociedade. Tínhamos o lema ‘aprender fazer fazendo’ e, de fato, fazíamos tudo à mão”.
Natural de Arroio do Tigre, filho de pequenos agricultores, Mário conta que as dificuldades para estudar e trabalhar no campo na década de 70 eram muito maiores. “Não se produzia muito e quando se produzia não tinha para quem vender”, observa. O ingresso no então Colégio Agrícola foi motivado por seu pai. “Ele era um líder, foi vereador, dirigente de cooperativa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a oportunidade de ingressar na Instituição surgiu porque meu pai ficou sabendo da escola através do prefeito. Realizei o exame admissional pude realizar o curso Técnico Agrícola”, conta.
Mário formou-se em 1973 e em 1974 mudou-se para Porto Alegre, trabalhou junto a FETAGRI e à Secretaria Estadual de Agricultura. Foi presidente da Associação dos Técnicos Rurais, reativando a entidade e foi deputado estadual por dois mandatos. Também lutou pela regulamentação da profissão, conquistada em 1985, enfrentando o Conselho Federal dos Engenheiros, Arquitetura e Agronomia (CONFEA). “Foi uma luta Histórica”, relembra.
Recentemente, participou de uma grande mobilização para a criação do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas cuja aprovação ocorreu em 2018 e o efetivo funcionamento foi a partir de 2019. “A criação da Federação nos dá liberdade, protagonismo e autonomia. Valorizou demais a profissão”, observa. Limberg preside o conselho na gestão que encerra este ano.
Fotos: Roberto Sander e Comunicação IFRS – Campus Sertão