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Escravidão e batismo são fontes de pesquisa no Campus Canoas


Assim que foram escolhidos no Edital 07/2021Programa Pesquisador Gaúcho – PqG (Fapergs), o grupo de pesquisadores do IFRS aumentou a averiguação a respeito de quantos africanos escravizados de quais nações (termo que aparece nas fontes) e, logo, de que culturas eram provenientes essas pessoas. Esse é o objetivo principal do projeto de título “Escravidão e tráfico de africanos através dos registros de batismo (Rio Grande do Sul, 1780-1850)”. O projeto é desenvolvido há cerca de quatro anos no âmbito do IFRS, quando o professor-orientador, Marcelo Santos Matheus, sempre com financiamento do CNPq e/ou do Fomento Interno do IFRS, conseguiu captar quatro bolsistas de iniciação científica que já passaram por ele. Atualmente, Jéssica Rembowski de Sousa, do curso Técnico em Administração, e Arthur José dos Santos Bamberg, do Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, são os pesquisadores.

O projeto tem como objetivo averiguar quantos africanos escravizados foram levados às pias batismais das capelas existentes no Rio Grande do Sul, entre 1780 e 1850, verificando de quais nações (termo que aparece nas fontes) e, logo, de que culturas eram provenientes essas pessoas. O recorte temporal se explica porque em 1780, além do Brasil se tornar o maior importador de africanos escravizados das Américas, a economia sul-rio-grandense (“gaúcho” não era um termo utilizado à época) se integrou de maneira mais orgânica à economia do restante da colônia. Por sua vez, em 1850 o tráfico atlântico de africanos escravizados foi encerrado, permanecendo residualmente até ser de fato extinto.

Nesse contexto, no Rio Grande do Sul, assim como no restante do Brasil, organizou-se uma sociedade católica e escravista e, por isso, praticamente todos os escravos e escravas eram batizados. E, na falta de outras fontes mais precisas, os batismos surgem como oportunidade de análise do tráfico de escravos, do passado desses africanos, bem como da formação do Rio Grande do Sul, estado que, no senso comum, criou-se um imaginário que a escravidão (leia-se, a população negra escravizada) não teria sido tão importante para sua formação como no restante do Brasil. Essa constatação é importante, pois dela derivam outras falsificações sobre a história do Rio Grande do Sul e do seu povo (um estado mais branco, trabalhador, politizado, etc.).

É um projeto que vem sendo desenvolvido há alguns anos. Entretanto, apesar de alguns historiadores colaboraram com alguns dados prontos sobre determinadas realidades, o montante do material (os batismos) a ser fichado é muito, muito grande. E, como quem realiza tal fichamento é o professor orientador e os poucos bolsistas, o trabalho é demorado.

_ Na verdade, nem tinha certeza se teria fôlego para encerrar o projeto. Contudo, agora, com o financiamento da Fapergs, ele ganha outra dimensão e, mais importante, condições de trabalho. Sobre esse segundo ponto, eu e os bolsistas teremos melhores equipamentos para trabalhar no fichamento das fontes. Da mesma forma, conseguirei realizar viagens de pesquisa de campo para finalizar a digitalização dos documentos que faltam.

_ Creio que seja possível concluí-lo dentro dos três anos de vigência do financiamento. Com isso, penso em uma publicação de mais fôlego (um livro), para além dos artigos de divulgação científica que já vem sendo publicados e das participações em eventos. Apenas para exemplificar, os resultados parciais já foram em eventos como o Enslaved Conference.

 

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