Campus Viamão
Campus Viamão do Instituto Federal participa do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia
O Campus Viamão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e, em especial o Programa Ecoviamão (Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica de Viamão e Entorno), estiveram presentes na 12ª edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), realizado de 20 a 23 de novembro, no Rio de Janeiro. Com mais de 5 mil participantes, o encontro celebrou a construção da Agroecologia no país e a retomada de espaços e políticas públicas estruturantes para fortalecer este novo paradigma que é entendido como “ciência, movimento e prática”.
De Viamão foram 12 representantes, sendo três docentes do campus, Claudio Fioreze, Milena Quadros e Mérli Silva, além de quatro bolsistas do EcoViamão, dois estudantes de especialização em Agroecologia e dois agricultores parceiros do Assentamento Filhos de Sepé. Além do Congresso, a equipe vivenciou algumas experiências de agroecologia aplicada, como o famoso projeto Favela Orgânica, no Morro da Babilônia (alimentação saudável popular na favela), e o projeto de reciclagem Ciclo Orgânico, nos bairros da orla carioca (coleta seletiva de resíduos orgânicos por ciclistas).
Com o sugestivo e potente lema “Agroecologia na Boca do Povo”, o CBA ecoou desde o dia (20) – Dia da Consciência Negra – por todo bairro da Lapa, a partir da antiga Fundição Progresso, com seus saberes e sabores, em uma intensa movimentação de pessoas vindas de todo o Brasil e de outros 20 países.
Os números do evento foram grandiosos: de acordo com a organização do evento, foram 5,5 mil inscritos. Na entrada da Fundição, logo pela manhã, já era possível ver o Memorial das Pessoas Encantadas, para que as comunidades e coletivos de todo o Brasil compartilhem histórias de pessoas que morreram em decorrência de conflitos no campo, além de honrar a memória de mestres da agroecologia, da educação popular e da construção de novos sentidos e projetos da sociedade.
Entre abraços e gritos de “sem feminismo não há agroecologia” e ”com racismo não há agroecologia”, as participantes levaram a diversos espaços quase sempre lotados, reflexões emergentes como a invisibilidade do trabalho de cuidado e de como ele afeta todas as dimensões da vida das mulheres, inclusive as oportunidades de participação política. O machismo estrutural, materializado nas relações sociais patriarcais que sustentam essa lógica, também foi lembrado.
“A partir do lema Agroecologia na Boca do Povo, houve uma convergência de várias formas de saberes agroecológicos e a luta dos povos tradicionais e movimentos populares no evento, inclusive com uma grande preocupação com a população local que teve acesso a espaços abertos como a Feira Nacional de Saberes e Sabores, instalada no Passeio Público, disponibilizando alimentação saudável, artesanato, fitoterápicos e publicações”, destacou a professora Mérli leal Silva, da UNIPAMPA, que está em Cooperação Técnica com o IFRS Viamão na área de Agroecologia.
Ações em cinco ambientes diferentes ofereceram milhares de refeições agroecológicas durante o Congresso, com destaque à operação da Cozinha da Reforma Agrária, das Comedorias, da Cozinha das Tradições e da Ação Contra a Fome, a qual fornecia marmitas aos muitos moradores de rua que habitam a região central do Rio de Janeiro.
O professor Claudio Fioreze, coordenador do EcoViamão, enfatizou sobre a dificuldade de legitimar o conhecimento das periferias urbanas e rurais no ambiente acadêmico. “É necessário falar da agroecologia a partir das tecnologias socioambientais e não apenas como um modelo acadêmico economicista, mas sim um modelo que produz bem viver. A prática, a partir do enfoque científico da Agroecologia é um resgate das ancestralidades, é diálogo de saberes, onde os conhecimentos populares e acadêmicos se fundem, construindo uma nova síntese, uma ciência do campo da complexidade em ação e movimento permanentes.”
O bolsista externo do EcoViamão, Ricardo Pellegrino, que coordena o Instituto Caminho do Meio, ligado ao Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), chamou a atenção sobre “a exposição de invenções geradas a partir da experimentação de agricultoras e agricultores familiares no espaço do Terreiro das Inovações Camponesas onde houve exposição e debates riquíssimos sobre o significado da inovação camponesa para o desenvolvimento da agroecologia”.
Leonildo Zang e Julieta Zang, pioneiros da agroecologia não só em Viamão, mas em toda a caminhada da reforma agrária no RS, com destaque à produção orgânica de arroz e hortigranjeiros, ao cooperativismo e à ação cultural no Assentamento Filhos de Sepé, e que já se formaram no curso FIC em Agroecologia e Produção Orgânica do EcoViamão em 2019, estiveram presentes em toda programação do CBA, e ficaram impressionados com o protagonismo dos camponeses e dos povos originários e tradicionais em praticamente todos os trabalhos apresentados. “Não há Agroecologia sem reforma agrária, sem combate ao machismo, ao racismo, enfim à toda forma de preconceito e violência, no campo e na cidade”, afirmaram eles. O casal também recebeu, em nome do Assentamento, premiação pela participação no documentário “Antes do Prato”, produzido com apoio do Greenpeace, e que foi uma das atrações do 2º Festival Internacional do Cinema Agroecológico (FICAECO).
O Programa Ecoviamão apresentou sete trabalhos através de seus bolsistas e coordenadores e suscitou ótimos debates. A visita técnica ao projeto Favela Orgânica, no morro da Babilônia foi uma rara oportunidade de trocas e parcerias, onde se conheceu de perto o sensacional trabalho de educação alimentar e cidadania promovido por Regina Tchelly.
O Programa Ecoviamão, através de convênio com a FAURGS, com recursos de emendas dos deputados Elvino Bohn Gass e Fernanda Melchiona, auxiliou no custeio de boa parte das despesas da equipe no congresso, viabilizando uma participação representativa do IFRS Viamão no maior evento de Agroecologia do Brasil, mostrando trabalhos desenvolvidos pela sexta edição do Programa, que em 2023 recebeu o nome de “EcoViamão contra a Fome: apoio a ações em Hortas Escolares Agroecológicas, Cozinhas Sustentáveis, Compostagem Coletiva e Agricultura Urbana”.
Bolsistas do EcoViamão, Ana Carolina Martins, Gustavo Spader e Sheila Santos falaram sobre seus trabalhos em hortas escolares, cozinhas populares sustentáveis, compostagem e alimentação saudável.
A professora Milena Silvester Quadros destacou que os CBAs “vêm se consolidando como eventos que destacam a força da incrível diversidade brasileira seja ambiental ou social e, ao mesmo tempo, evoca a Agroecologia como um enfoque riquíssimo capaz de transformar democraticamente a sociedade nestes tempos de colapso e antropoceno”.
O encerramento foi celebrando a potência do encontro e a construção das sínteses políticas do 12º CBA, destacando a força das mensagens centrais construídas ao longo dos quatro dias, visando energizar a todos que voltaram às suas casas para reencontrar com as suas comunidades e comunicar a beleza e a riqueza ali partilhada.
“Não há tristeza! A despedida é recomeço!”. Esse era o clima na Arena da Fundição Progresso, lotada por mais de 4 mil pessoas para ouvir o nosso mestre imortal Ailton Krenak, com a participação do Instituto Aluande Capoeira (Angola) e da Folia de Reis do Morro da Formiga (RJ).
Porque você veio, a luta teve mais brilho, os diálogos mais profundidade e os abraços mais calor. Porque você veio, o Rio foi mais alegre, a esperança renovada e nossas bandeiras mais expressivas! Você, nós, este encontro de tantas gentes e lugares! Obrigada por ter saído da sua casa para confiar os seus dias e sua energia de vida a este projeto de transformação da sociedade! Saímos maiores do que antes, com mais vigor e a certeza de que nossa força reside no caminhar lado a lado, na reciprocidade e no afeto. Até breve, companheira! Até breve, companheiro! A gente se reencontra na luta!
Para saber mais sobre o XII CBA: instagram.com/aba.agroecologia