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Tecendo parcerias pela educação: estudantes de EJA e acadêmicos de Letras trocam experiências de escrita e de leitura
A noite da última quinta-feira, dia 05/06, foi especial para acadêmicos do 1º semestre em Letras do IFRS Campus Feliz e estudantes dos anos iniciais da EJA da EMEF Alencastro Guimarães, de São Sebastião do Caí. Os alunos e suas respectivas professoras se reuniram no IFRS para vivenciarem uma oficina literária e para se conhecerem após participarem de um projeto de troca de cartas.
A proposta foi desenvolvida ao longo do mês de maio, com trocas semanais de correspondências escritas entre os alunos. Na turma de Graduação, o ponto inicial para o projeto foi a leitura e o debate da obra “A palavra que resta”, de Stênio Gardel, que retrata a vida de um senhor que, aos 71 anos, vai à escola para poder ler a carta que recebeu de seu amor na juventude. As reflexões sobre o poder das palavras na comunicação e na trajetória de vida de cada pessoa foram aprofundadas na escrita de cartas aos correspondentes da EMEF Alencastro Guimarães, e em atividades dos componentes curriculares “Introdução aos estudos literários”, “Desenvolvimento e aprendizagem” e “Leitura e produção textual”, coordenadas pelas professoras Tatiane Kaspari, Andréia Antich, Letícia Mayer Borges e Izandra Alves.
Já na EJA, a proposta foi coordenada pela professora Janaina Flores e esteve vinculada ao letramento dos estudantes, valorizando a leitura e a escrita como formas de expressão pessoal, construção de identidade e fortalecimento da autoestima. A troca de cartas foi um estímulo potente para que cada aluno percebesse a si mesmo como sujeito de uma história digna de ser contada, e lida. Além disso, a atividade reforçou a importância da escuta e do reconhecimento do outro, promovendo vínculos afetivos e pedagógicos entre gerações distintas de aprendizes.
A vivência revelou-se rica em aprendizados para ambos os lados. Estudantes de licenciatura se preparam para ensinar, mas naquele momento foi preciso também aprender. Aprender a ouvir, a acolher, a respeitar tempos e trajetórias. Aprender que a sala de aula é feita de encontros reais, nos quais o saber não circula em uma única direção.
E se, muitas vezes, se pensa na educação apenas como uma chave de acesso ao mercado de trabalho, a realidade dos estudantes da EJA nos lembra que a escola também é lugar de pertencimento, de memória, de reencontro com os próprios sonhos. Em uma das atividades da noite, enquanto se entoavam cantigas de roda e se compartilhavam brincadeiras da infância, a estudante Joice dos Santos, em nível de alfabetização no EJA, ensinou a todos os presentes a confeccionar fuxicos: “foi uma experiência maravilhosa, eu fiquei até nervosa quando me chamaram para ensinar os fuxicos”. Com delicadeza e firmeza, ela costurou não apenas retalhos de tecido, mas também experiências, saberes e afetos. Uniu com linha e agulha estudantes, professores e vidas, demonstrando que sempre há algo a ensinar, e muito a aprender, quando se está disposto a trocar. Assim como seus colegas, Joice ressaltou a importância da persistência em buscar seus sonhos: “eu não desisto de estudar, mesmo estando cansada, muitas vezes vindo direto da faxina, com botas e roupas suja na mochila, eu estou lá. Meus filhos dizem “fica em casa”, quando está frio ou chovendo, eu digo “não, preciso ir estudar”. E agradeço sempre a professora por me ensinar.”.
A alegria em compartilhar ensinamentos e experiências de vida em projetos como esse pode ser resumida na fala da professora Janaína Flores: “esses alunos me motivam, posso ensinar, mas todos os dias eles me ensinam muita coisa! E essa troca foi muito significativa, muitos nunca haviam escrito ou recebido uma carta. Mostrar o trabalho e os alunos da Eja, fez esse sentimento ser maior. Agradeço imensamente por essa oportunidade que tivemos de ver outra realidade e que o aprendizado não tem idade!”.