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Conheça mais sobre o projeto Relações de poder e divisão sexual do trabalho na educação profissional de jovens mulheres


Esta é a segunda entrevista do projeto “Conhecendo oportunidades de participação: o #MUNDOIFRS é 10”, proposto pelas professoras Juliana Battisti e Michele Mafessoni de Almeida e realizado pelas turmas 131 e 111 do Ensino Médio Integrado.

O objetivo principal dessa ação é possibilitar que os estudantes do primeiro ano conheçam os projetos de ensino, pesquisa e extensão do campus e incentivá-los a participarem dessas experiências desde seu ingresso na instituição.

A conversa desta semana é sobre o projeto Relações de poder e divisão sexual do trabalho na educação profissional de jovens mulheres com a estudante Kauane de Oliveira, realizada pelas estudantes Eduarda dos Santos e Vitória de Lima da turma 111 do curso Técnico em Eletrônica.

 

Entrevista realizada pelas estudantes da turma 111 do curso técnico em Eletrônica do IFRS Campus Restinga,  Eduarda dos Santos Innocente & Vitória de Lima.

 

Kauane Santos de Oliveira, de 18 anos, é estudante do 4° ano de eletrônica e participa ativamente de diversas atividades no IFRS Campus Restinga. Ela vem nos contar um pouco mais sobre a sua atuação em um projeto de extensão cujo objetivo é identificar como as relações de poder com base em gênero, raça, classe, região e demais marcadores sociais interferem na formação profissional das jovens estudantes.

Vamos falar sobre a sua chegada até o IFRS Campus Restinga: você pode nos contar como descobriu nossa instituição?

Meu primeiro contato com o IFRS iniciou antes de eu saber o que era o Instituto Federal. Eu lembro de pesquisar sobre o campus de Porto Alegre, porque eu não tinha noção nenhuma que existia a sede na Restinga. Algum tempo depois, descobri que já havia visitado a instituição em um passeio da escola de Ensino Fundamental onde eu estudava. Nessa época eu não fazia ideia das portas que o IFRS abriria para mim! Quando fiz o processo seletivo em 2016/2017, o campus não tinha terminado de ser construído, então, era completamente diferente do que é hoje.

Em relação aos projetos, quando você ingressou na instituição, sabia que o IFRS oferece oportunidades para que os estudantes participem de ações de pesquisa, ensino e extensão?

Tive meu primeiro choque de realidade, quando entrei e vi as inúmeras possibilidades de formação que o IFRS oferece. Quando ingressei no IF, tive a oportunidade de ser bolsista de monitoria no setor de ensino. Fiz muitas coisas por lá! Nessa experiência, aprendi sobre tudo o que a instituição tinha a oferecer: bolsas de ensino, pesquisa e extensão e os eventos científicos, por exemplo. Nessa época,conheci os técnicos administrativos, professores, alunos e coordenadores de curso, já que eles sempre apareciam por lá. Eu tinha 16 anos e os discentes da graduação me chamavam de “tia do ensino”. Eu estava no primeiro ano e isso foi completamente inovador! Foi uma ótima oportunidade de crescimento!

Nos conte mais sobre o projeto de Relações de poder e divisão sexual do trabalho na educação profissional de jovens mulheres. Além de mostrar que não existe separação de gênero, porque qualquer pessoa pode estudar e trabalhar em qualquer área,  essa ação tinha algum outro objetivo que motivou você a participar? Se sim, qual?

Eu sinto que esse projeto caiu no meu colo em um momento muito difícil. No primeiro ano, eu era a única menina na minha turma de eletrônica e, por conta disso, passei por momentos muito difíceis dentro do campus. Já saí da sala de aula chorando em vários momentos, porque colegas e professores falaram que eu não era capaz. Esse tipo de violência ainda é muito comum no dia-a-dia, mesmo depois de 4 anos. No início de 2020, quando eu estava no segundo ano e pensando em desistir do curso, uma professora minha me convidou para participar de uma palestra do NEPGS que é um núcleo de estudos sobre gênero e sexualidade do Campus. Fui na palestra no dia da mulher para falar sobre a minha experiência em um evento do google. Eu lembro que a professora Nathália estava sentada em um canto da sala, ela era nova no campus e dava aula de inglês. Eu fiz um discurso falando como o nosso curso era péssimo, pois eu sofri muito e continuo sofrendo e vou sofrer até eu me formar. A professora Nathália Gasparini ouviu isso e falou que tinha um projeto que eu poderia participar. Eu nem sabia qual ação era, mas falei que queria entrar!  Quando abriram as possibilidades de bolsa, eu vi o projeto e falei “agora eu vou me inscrever e ser bolsista”! Começamos lendo e discutindo sobre as relações de poder, sobre a divisão sexual do trabalho e sobre as lutas feministas. Depois dessa fase, coletamos as percepções das estudantes sobre suas vivências na instituição através de um questionário online. Fizemos também rodas de conversas para ver como a divisão social do trabalho afetava o ensino dessas meninas. Foi uma experiência muito engrandecedora me colocar no papel de pesquisadora sobre esse assunto, pois eu sofri muito com aquilo.

Dá para perceber que entrar nesse projeto foi algo muito importante para você. Como a sua participação impactou na sua vida?

Esse projeto não fez só eu desistir de sair do campus, como também me ajudou a entender o que acontecia no IFRS e a compreender que isso  é muito maior que nossa a instituição: as opressões que as mulheres sofrem ocorrem em vários campos da nossa sociedade! Um exemplo bastante comum é que no Ensino Médio geralmente os meninos desistem porque precisam trabalhar. Já no Ensino Técnico, as meninas desistem por que o ambiente tem uma propensão maior para expulsá-las. Eu percebi que, desistindo do curso, eu ia acabar sendo mais um número dessa evasão.

Para finalizar a entrevista, você tem alguma dica para os futuros bolsistas? O que devem buscar no IFRS Campus Restinga?

É importante olhar para as bolsas e ver tudo que pode ter para você lá dentro. Participar de projetos é uma oportunidade de conhecer coisas novas, pessoas diferentes, se entregar e mostrar que tem vontade de aprender ! Tudo que um coordenador quer é um bolsista que queira aprender.

 

 

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