Pesquisa
Projeto de tecnologia promete otimizar a comunicação no ambiente hospitalar por meio da inteligência artificial
Desenvolver um aplicativo que seja capaz de analisar prontuários hospitalares e garantir uma comunicação efetiva e humanizada entre equipes clínicas, gestores e familiares de pacientes internados em UTIs. Esse é o desafio lançado pelo habitat de inovação e empreendedorismo “Fábrica de Software do Campus Osório”, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), por meio de projeto selecionado em edital interno do Instituto e de fomento externo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). A iniciativa já está em andamento desde 1º de dezembro de 2025 e conta com a parceria do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), uma das maiores e mais relevantes redes públicas de saúde do país.
O projeto intitulado “Aplicativo para acompanhamento inteligente da situação de pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) utilizando Agentes de Inteligência Artificial” tem como coordenador o professor Humberto Jorge de Moura Costa, pesquisador da área de Inteligência Artificial aplicada à cuidados de saúde e sistemas computacionais distribuídos, Senior Member da Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), a maior organização profissional do mundo dedicada ao avanço da tecnologia nas áreas de engenharia, computação e ciências aplicadas. Integra a ação o estudante Éric Fritzen Valle, do 5° semestre do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS).
Segundo o docente, a proposta nasce do desafio real de otimizar a comunicação em ambientes hospitalares de alta complexidade, reduzindo ruídos e a sobrecarga informacional. “O objetivo é desenvolver um aplicativo baseado em agentes de Inteligência Artificial Generativa, capaz de analisar prontuários eletrônicos (EHRs) em tempo real e gerar respostas em linguagem natural, personalizadas para perfis distintos — médicos, gestores hospitalares e familiares — garantindo clareza, precisão e uma experiência informativa mais humana e eficiente”, explica Humberto.
O valor recebido para investimento, de até R$ 100 mil, prevê a aquisição de equipamentos de alto desempenho para o campus, insumos, e o pagamento de bolsa de auxiliar de pesquisa, de 20h semanais, para o estudante no período de desenvolvimento do projeto, que é de 18 meses. Entre os itens que serão adquiridos estão: dez notebooks para a equipe de treinamento em IA, cinco computadores desktop para o time de desenvolvimento, uma TV 4K de 75 polegadas, além de materiais de custeio e suporte técnico para prototipação, testes e capacitação dos profissionais de saúde.
Segundo o cordenador do projeto, “os recursos vão possibilitar expandir a infraestrutura de pesquisa e inovação da instituição, fortalecendo a capacidade de desenvolvimento tecnológico e a formação de talentos avançados na área da saúde digital e IA”. Para o bolsista, a perspectiva é de muito aprendizado e desenvolvimento profissional: “o projeto vai permitir me aprofundar na inteligência artificial, algo que tenho bastante interesse; e com o auxílio e a orientação do professor Humberto, essa experiência será uma grande oportunidade de vivenciar a pesquisa aplicada dentro da minha área de formação, gerando impactos positivos reais. Tenho um respeito grande pelo professor Humberto, acho ele muito “crânio”, então sei que vai ser um desafio e tanto, mas justamente por isso estou bastante motivado“.
O trabalho contempla nove fases: Planejamento e Organização do Projeto; Infraestrutura e Capacitação; Levantamento de Requisitos e Modelagem; Desenvolvimento e Integração; Finalização do MVP e Preparação para Treinamento; Treinamento de Profissionais de Saúde; Avaliação de Impacto e Melhoria Contínua; Transferência de Tecnologia; e Disseminação Científica e Encerramento.
Entre os impactos previstos com o desenvolvimento do app estão a redução da sobrecarga informacional e da demanda por comunicação manual entre equipes assistenciais e familiares, o que repercute em um acesso rápido e simplificado aos resumos clínicos para uma tomada de decisão mais eficiente pelos médicos, enfermeiros e demais envolvidos na gestão hospitalar, e acesso a atualizações compreensíveis sobre o estado de saúde do paciente internado, reduzindo ansiedade e carga emocional aos familiares. Outros benefícios incluem a transferência da tecnologia desenvolvida pelo habitat de inovação do IFRS para hospitais parceiros no estado; o fortalecimento do litoral norte do Rio Grande do Sul como polo de inovação tecnológica em saúde e IA; e a produção científica de alto nível, com artigos, relatórios técnicos e contribuições em eventos nacionais e internacionais.
Sobre a seleção:
Com o propósito de fortalecer o ecossistema de empreendedorismo tecnológico, o IFRS participou do edital do Programa de Apoio aos Ecossistemas de Inovação, publicado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). A seleção tinha por objetivo fomentar parques tecnológicos no estado e impulsionar inovação e desenvolvimento regional, o que se relaciona diretamente com a recente aquisição do Instituto, em março de 2025, da estrutura agora denominada IFRS Tecno-parque, localizada junto ao Campus Viamão.
Contemplado pelo edital da Fapergs, garantindo recursos externos para expandir a infraestrutura de pesquisa e inovação da instituição, o IFRS abriu um edital interno para integrar os campi que possuem habitats de inovação e empreendedorismo à proposta institucional. Submeteram projetos as unidades de Osório, Porto Alegre, Ibirubá e Caxias do Sul, todos alinhados à vocação institucional de promover soluções tecnológicas com impacto social e regional. “A seleção do projeto do nosso campus reafirma o papel do IFRS como agente impulsionador da inovação científica e tecnológica aplicada à sociedade, conectando ensino, pesquisa, empreendedorismo e impactos concretos na transformação digital da saúde pública no estado.”, explica Humberto.
Parceria com o GHCE:
Após uma reunião técnica, realizada no dia 21 de agosto de 2025, os gestores de inovação do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) emitiram uma carta oficial de anuência, consolidando a parceria e o compromisso de apoiar a validação, aplicação e transferência da tecnologia em contexto hospitalar real no Rio Grande do Sul. Na oportunidade, o projeto do Campus Osório foi apresentado pelo professor de informática Humberto Costa e a professora de administração Adriana Pancoto.
As relações entre o IFRS e o GHC iniciaram com o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, que inclui a implantação de campi de institutos federais em todo o país. O GHC doou um terreno de 3,9 mil metros quadrados que vai abrigar o Campus Zona Norte do IFRS, com a assinatura da escritura em 22 de abril de 2025.