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Incubadora torna-se parceira da iniciativa que busca integrar o município à Rede Mundial Cidade das Crianças
A realização da primeira reunião de trabalho entre a equipe da Incubadora de Redes, Empreendimentos Solidários e Inovações no Serviço Público do Campus Osório (IRES) com membros da Órgão Técnico do Plano Diretor do município marcou a intenção do campus em ser parceiro da iniciativa que visa fazer com que Osório faça parte da “Rede Mundial Cidade das Crianças”.
Ainda em fase de adesão, a ideia central do projeto é que os espaços públicos sejam pensados e planejados para serem ocupados pelas pessoas, ao contrário do que se tem hoje, onde o foco são os veículos. E quando concebida pelas e para as crianças, essas áreas são voltadas a todos (idosos, pessoas com necessidades específicas…), pois nelas estariam garantidas questões como acessibilidade e segurança, por exemplo.
O encontro ocorreu no auditório do IFRS – Campus Osório, com uma apresentação do projeto para os docentes e estudantes bolsistas da Incubadora pelo arquiteto e urbanista Alencar Massulo e a engenheira civil Monique Alves. Na oportunidade, também foi entregue um documento com propostas ao Plano Diretor de Osório, que está em período de revisão, pelo coordenador da IRES, professor Márcio Pozzer.
Massulo apresentou dados que apontam que, de todos os espaços públicos abertos (compreendendo praças, calçadas e ruas), 65% é destinado aos automóveis – uma relação que deveria ser totalmente inversa segundo ele, visto que as cidades possuem, em média, mais do que o dobro de pessoas em relação aos veículos.
Ele conheceu o projeto há cerca de um ano e, desde então, realizou pesquisas e até uma viagem pessoal para conhecer cidades que integram a Rede. Agora, o objetivo é fazer com que o município de Osório faça a adesão – o que deve acontecer ainda neste ano, uma vez que já foram recebidas as orientações gerais com os pré-requisitos a serem cumpridos e está sendo organizada a documentação.
Também deve-se constituir um Conselho de Crianças, para que a cidade passe a ser pensada e concretizada a partir das necessidades e prioridades dos pequenos cidadãos. Tudo deve ser incluído novo Plano Diretor do município, a fim de que se torne uma política permanente.
Para a equipe da Incubadora, foi possível encontrar muitas convergências entre o que se foi pensado para atuação da equipe neste ano e o projeto Cidade das Crianças, unindo o propósito de criar materiais e programações voltados para os pequenos, com referência à cultura, fauna e flora da região para tornar Osório mais amigável e uma referência estadual de cidade que acolhe bem as crianças e suas famílias, promovendo ambientes seguros, saudáveis, lúdicos e educativos. Estão envolvidas na coordenação deste projeto as professoras Roberta Dos Reis Neuhold (Sociologa), Lisiane Zanella (Biologia), Marla Heckler (Física) e Aline de Bona (Matemática).
Atividades práticas realizadas em 13 escolas municipais sob coordenação de Massulo já buscaram ouvir os principais interessados no projeto, as crianças. Foram realizadas 17 oficinas, com mais de 300 estudantes, com idades entre 6 e 14 anos. O objetivo era identificar a visão das crianças sobre o município, com uma análise do que Osório tem de bom, o que não gostam e o que gostariam que tivesse. Se somados os itens em comum, como espaços de parques, praças e áreas de lazer para prática de esporte e para brincar, eles representam 30% das preferências.
Sobre a Rede Mundial Cidade das Crianças (City of Children)
A Rede Mundial de Cidade das Crianças completou 30 anos em maio de 2021 e foi idealizada pelo pensador, pedagogo e desenhista italiano Francesco Tonucci, autor do livro A Cidade das Crianças.
É atualmente composta por mais de 200 cidades, em 15 países da Europa e América Latina, e foi idealizada com o foco no desenvolvimento durante a infância, período mais fértil e decisivo da vida. A proposta da Rede é garantir nas cidades integrantes a liberdade e autonomia das crianças como condição para que as suas sociedades sejam verdadeiramente democráticas.
Casos de sucesso
Na apresentação, Massulo mostrou cidades europeias bem distintas que aderiram ao programa mundial: Fano e Malnate, na Itália, e Pontevedra, na Espanha. Uma possui 60 mil habitante, outra 16 mil e a última em torno de 200 mil. Em todas, o projeto foi implementado com sucesso, provando que independe do porte, mas sim de uma nova cultura, voltada para as pessoas.
Entre as principais características dos espaços públicos estão ruas exclusivas para pedestres ou com apenas uma faixa para veículos, tornando as calçadas mais largas, a maioria em nível (sem meio-fio) e com velocidade reduzida; pontos turísticos possuem placas mais baixas, permitindo que todos possam ler as informações; voluntários, em sua maioria idosos, atuam como agentes de trânsito, garantindo a segurança das crianças nas proximidades das escolas para que façam o trajeto a pé; comércios utilizam um selo para identificar que aquele espaço é amigo das crianças, acolhendo e orientado sempre que necessário; placas de sinalização contam com desenhos, distâncias e informações importantes sobre a cidade; ruas são ponto de encontro para brincadeiras e eventos voltados para as crianças.
Os ganhos em cidadania e em acessibilidade somam-se também ao comércio, que são remodelados e incrementados com novos empreendimentos, pois os carros dão lugar às pessoas, como num modelo de shopping, onde os veículos são estacionados mais distantes, liberando os espaço públicos para serem aproveitados e vivenciados. A questão da segurança no trânsito também é destaque: em Pontevedra, o número de mortes caiu para zero e os acidentes reduziram à metade em 10 anos de projeto.
No Brasil, apenas a cidade de Jundiaí, em São Paulo, faz parte da Rede. Já no país vizinho Argentina, há muitos municípios integrantes que adotaram esta concepção e estão gradativamente transformando sua cultura, como Rosário, que há 20 anos integra o grupo internacional.