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Experiências de estudantes e servidores do campus estão relatadas em livro sobre a enchente, publicado pelo IFRS
Está disponível para acesso gratuito o livro “Relatos da enchente de maio de 2024: Memórias da catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul”. A obra é composta por 32 narrativas de servidores e estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e também de pessoas da comunidade externa, entre os quais seis do Campus Osório:
“Toda criança merece brincar” (páginas 82-89), de autoria dos docentes Thaís Ramos Viegas, Marcelo Paravisi, Bruno Chagas Alves Fernandes, Terrimar Pasqualetto e da estudante do curso Técnico em Informática (Integrado) Luana Machado Aurélio.
“Recursos tecnológicos de apoio durante a inundação no Rio Grande do Sul em 2024” (páginas 90-96) e “As contribuições da tecnologia na enchente do ano de 2024 no estado do Rio Grande do Sul em 2024” (páginas 97-103), que tem como autores a professora Anelise Lemke Kologeski e os estudantes Ana Clara Souza Cecconelo, Matheus Bonnati e Gabriel Linhares Bittencourt, o do curso Técnico em Informática (Integrado).
“O dia que nunca mais vou esquecer” (páginas 104-109), também da docente Anelise Lemke Kologeski.
“As restrições impostas pela tecnologia durante a inundação” (páginas 110-115), numa composição da professora Anelise Lemke Kologeski com as estudantes o do curso Técnico em Informática (Integrado) Rafaela Matsubara Caruso, Ana Clara Souza Cecconelo e Suzana Pimenta Lentz.
“Uma história, uma dobradura de papel, uma atividade investigativa de matemática: um movimento de educação em prol do próximo” (páginas 116-124), de autoria das docentes Aline Silva de Bona e Anelise Lemke Kologeski.
Apesar de Campus Osório não ter sido diretamente atingido, alguns membros da comunidade acadêmica tiveram suas vidas modificadas. Devido à necessária mobilização do estado no período, as atividades letivas e os projetos (de ensino, pesquisa e extensão) foram realizados de forma remota – o que tornou a estrutura do campus disponível para apoiar ações que beneficiassem as pessoas afetadas pela tragédia, que assusta pelos números: duas centenas de pessoas registradas entre os mortos e desaparecidos, além de 800 feridos e um total de 2,3 milhões de desabrigados ou desalojados — o que representa 20,95% dos 10,88 milhões de habitantes do estado (dados publicados pela Agência Brasil em meados de maio de 2024). Segunda a Defesa Civil, quase 95% das cidades gaúchas foram afetadas. Um relatório aponta que 471, dos 497 municípios, foram atingidos. Ou seja, somente 26 não tiveram nenhum impacto relacionado às chuvas que castigaram o RS entre o fim de abril e o mês de maio.
A professora Anelise Lemke Kologeski, que assina cinco textos, diz que “os relatos ajudaram organizar as ideias de forma racional em relação ao ocorrido, além de valorizar o trabalho de todos que foram ativamente participantes desse momento para atenuar a dor e o sofrimento de muitos, inclusive meu e da minha família”. Ela teve sua casa, em Canoas, totalmente alagada, com o nível da água batendo aproximadamente 1,90m e ficando submersa por mais de três semanas. A residência da sua mãe em Guaíba também foi atingida, com mais de 1,40m de profundidade. “Consegui acessar minha casa apenas no final do mês de maio, e ainda assim não tinha como chegar de carro, pois as ruas do entorno ainda tinham muita água. Eu fiquei por 36 dias abrigada na casa da minha cunhada, na zona sul de POA, e minha mãe conseguiu abrigo na casa da minha irmã”.
Escrever para o livro, segundo ela, também foi um processo de acolhimento e ressignificação: “Foi bastante marcante, pois contei com a ajuda de vários estudantes e da professora Aline de Bona, que também se solidarizaram com a situação. Compartilhar tudo o que aconteceu é também uma forma de registrar a história, para que, no futuro, especialmente a minha filha, a época com três anos, possa ler para saber tudo que aconteceu, pois ela talvez nem irá recordar”.
Os textos traçam relações entre o uso da tecnologia em meio ao desastre, inclusive do ponto de vista de quem também estava desabrigada; e com a professora de matemática Aline, repercute as ações com dobraduras de papel desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Matemática e suas Tecnologias (Matec) em abrigos da região do litoral norte.
A iniciativa dos professores e estudantes do habitat de inovação Windmaker, com a produção de jogos e brinquedos em MDF e em impressão 3D que foram doados para crianças em abrigos e hospitais, ganha destaque em um capítulo. A estudante Luana Machado Aurélio explica que a ideia partiu do sentimento de empatia: “O professor Marcelo Paravisi lançou a proposta pensando nas crianças que perderam seus brinquedos e estavam nos abrigos, cheio de pessoas estranhas e sem ter o que fazer. Como tínhamos materiais disponíveis, procuramos na internet por ideias do que poderia ser feito. Primeiramente, para as crianças, depois para os adolescentes”.
A produção iniciou com Jogo da Memória e depois inclui Ludo, Dominó, Fazendinha, livros de colorir produzidos pela professora Thaís e lápis de cor e giz de cera arrecadados por doações. O kit chamado Brinquedoteca Itinerante, incluia cerca de 18 itens, conta Luana, que atualmente é bolsista do Windmaker. Além de atuar na produção, a jovem realizou a entrega de um kit à pediatria do Hospital Getúlio Vargas, de Tramandaí – experiências, segundo extremamente gratificante. “Tudo era pensado e feito com o maior carinho possível, desde o corte, a pintura e a embalagem das peças. Tenho certeza que todos da equipe ficaram com os corações quentinhos por poderem fazer isso pelas crianças”, conclui.
Sobre a obra literária
O livro tem como objetivo preservar a memória e transmitir um pouco do que foi vivenciado em maio de 2024, momento em que o Rio Grande do Sul (RS) passou pela pior catástrofe climática de sua história, com chuvas intensas que provocaram deslizamentos e alagamentos e causaram prejuízos e mortes. Alguns campi do IFRS foram diretamente afetados, como é o caso do Campus Canoas, que virou abrigo para a comunidade do entorno, e o Campus Porto Alegre, localizado o centro da capital, inundado pela lama.
Os textos foram selecionados pelo Edital Proppi/Proen/Proex 02/2024. A publicação tem organização das Pró-reitorias de Ensino (Proen); Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (Proppi); e de Extensão (Proex) do IFRS, com colaboração de avaliadores dos Institutos Federais (IFs) gaúchos, de Santa Catarina e do Paraná.
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