Extensão
Panificação como instrumento de inclusão, reabilitação e socialização
A receita é simples: um pouco de farinha, uma pitada de fermento, muito amor ao próximo e uma superdose de dedicação. É com esses ingredientes que a professora do curso de Panificação Fernanda Arboite e suas bolsistas Lara Petitemberg Lang (202 INFO) e Ana Clara Marcos de Souza (202 Adm), desenvolveram três projetos de extensão no Campus Osório que obtiveram resultados saborosos (pelos pães, bolos, massas e biscoitos produzidos) e transformadores (pelos valores e objetivos envolvidos). As propostas envolveram mais de 30 pessoas da comunidade externa, de Osório e municípios vizinhos, como Imbé e Tramandaí.
O Sabores da Inclusão tem como público-alvo pessoas com Síndrome de Down que fazem parte da Associação dos Familiares e Amigos do Down (AFAD Osório Litoral); o Fermentando Habilidades é destinado aos pacientes em processo de reabilitação pós Acidente Vascular cerebral (AVC) do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), ligado à Secretaria de Saúde de Osório; e o Pão ConVerso, voltado à gestantes ou cuidadores responsáveis por crianças de até três anos do Bairro Albatroz, atendidos pelo programa Primeira Infância Melhor (PIM) – política pública intersetorial de promoção do desenvolvimento integral nos primeiros anos de vida.
Todas as ações surgiram de demandas das instituições envolvidas, que procuraram o Laboratório de Panificação com o objetivo de construir alternativas terapêuticas aos diferentes grupos e foram acolhidas pela professora de Panificação. “Pelo desenvolvimento dos projetos, promovemos o acesso ao campus, e a tudo que ele oferece, a todas as pessoas, principalmente às mães e os que possuem algum tipo de deficiência, pois sabemos que para esses públicos o acesso é ainda mais difícil, por conta das necessidades específicas que precisam ser contempladas. Para as pessoas com deficiência, o campus oferece uma estrutura adaptada, e para as mães, um espaço seguro para os pequenos fiquem sob os cuidados das monitoras do PIM enquanto elas têm um momento exclusivo e dedicado ao seu bem-estar, em meio a todas as demandas que envolvem o cuidar de uma criança”, explica Fernanda.
Tal como uma receita, cada projeto segue um modo de fazer, contemplando oficinas teóricas e práticas, intervenções terapêuticas e trabalho em equipe. E aquele segredo especial, que as melhores receitas sempre tem, vêm de família: as estudantes Natália Stenzel e Solange Amengual Stenzel, do curso Técnico em Guia de Turismo, participam como voluntárias. Sobrinha e tia, elas entendem bem a importância da inclusão e acolhimento. Ambas são formadas no curso Técnico em Panificação. Natália, como a primeira estudante surda a conquistar um diploma no campus, e Solange, como a estudante mais experiente. Também integra o grupo de voluntárias, Tatiana Santos Barbosa, egressa do Técnico em Panificação.
O Sabores da Inclusão: Panificação como Caminho para Autonomia e Oportunidades simula um ambiente profissional em que as pessoas com Síndrome de Down desenvolvem competências para inserção no mercado de trabalho ou para o empreendedorismo, por meio de práticas adaptadas. Lisiane Martins de Souza, presidente da AFAD, destaca a importência da parceira: “É um projeto que busca dar autonomia dentro de um processo que parece muito simples, como fazer seu próprio lanche, ou uma receita, mas que para eles é fundamental ao dar esse direcionamento para a autonomia”.
No Fermentando Habilidades: oficinas de Panificação para indivíduos pós Acidente vascular cerebral (AVC), uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e educadores acompanham os processos de manipulação dos ingredientes, sova, modelagem das massas e utilização dos utensílios de cozinha como uma estratégia de desenvolvimento da coordenação motora e da destreza para a reintegração social.
E o Pão ConVerso: uma estratégia para qualificar a construção da parentalidade e fomentar a educação alimentar e nutricional das famílias atendidas pelo programa Primeira Infância Melhor – PIM Osório faz associações entre cuidado, preparo de alimentos saudáveis, desenvolvimento infantil e saúde mental, por meio de metodologias ativas que envolvem trocas de saberes e fazeres com relatos, escrita criativa e rodas de conversa mediadas profissionais do grupo técnico do município. Viviane Heckler, psicóloga da Prefeitura de Osório, conta que a condução dos debates, enquanto os alimentos são preparados, busca mais do construir conhecimentos associados à alimentação e a outros cuidados “mas a ser um exercício de parentalidade positiva, um espaço de escuta e cuidado, com uma série de ações voltadas ao desenvolvimento integral dessas crianças e também atribuídos aos pais ou responsáveis”.
Ao final, no momento de partilha dos alimentos preparados, o resultado agrada ao paladar e também à auto-estima. A bolsista Lara Lang resumir bem: “É algo que agrega na vida de todos nós, nos preenche. É um afeto que vai muito além das receitas”.






