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Estudante do Campus Feliz conquista 1° lugar no III Concurso Literário do IFRS


Com o objetivo de incentivar a produção literária dos estudantes, o IFRS promoveu mais uma edição do Concurso Literário. Entre os classificados, o estudante do curso de Licenciatura em Química do Campus Feliz Marcius Andrei Ullmann conquistou o 1º lugar na categoria Poema com o texto “Tela de pintar” e também ficou entre os dez classificados nas outras três categorias: Crônica, Conto e Haicai.

O III Concurso Literário do IFRS contou com mais de 100 participações de toda instituição. O resultado foi divulgado no início de novembro e pode ser conferido na lista.

Os três primeiros colocados de cada categoria receberão certificado e premiação durante o 8º Salão de Pesquisa, Extensão e Ensino do IFRS, que ocorre nos dias 23 e 24 de novembro de 2023. Os dez primeiros textos classificados de cada categoria serão publicados em livro digital organizado pelo IFRS.

O estudante do Campus Feliz já havia participado da edição anterior do concurso, também com textos classificados nas quatro categorias, incluindo 1º lugar no Haikai e 3º lugar no Poema. Marcius destaca a importância dessa participação, de modo “que a visibilidade do concurso possa ser o início de muitos projetos com o Instituto Federal com o intuito de estreitar a relação transversal entre o departamento das Letras e da Química, divulgando esses dois cursos tão necessários”.

A entrevista com o licenciando pode ser conferida abaixo:

Você costuma escrever com frequência?

Sim. Não é periódico, mas tenho meu caderno de frases e poemas e outro de ideias, no qual reúno conceitos, verbetes e abstrações. Desde quando “pratico” a literatura? Bom, daí fica difícil precisar um momento da vida, pois escrevo fragmentos de qualquer coisa desde a infância, embalado pelas leituras da minha mãe. Gostava de mudar o final das histórias já escritas. É uma prática peculiar, no entanto, um excelente exercício.

Qual gênero melhor se identifica e tem preferência na hora de escrever?

Gosto das possibilidades. Cada texto se enquadra em uma situação distinta. Se o intuito é uma crítica mais incisiva, flertando entre o literário e o jornalístico: uma crônica é uma boa opção. Se o desejo é criar o fantástico, brincar com as alegorias e “deixar um gostinho de quero mais”: então sai um conto. Agora, quando o assunto é evocar sentimentos, burlar a semântica tradicional e, mesmo que de leve, desvirtuar a gramática, só posso recorrer à poesia. Contudo, o mais simples às vezes é o mais belo: haikais são um desafio à parte. No II concurso, do ano de 2021, inclusive, o haikai “Sons do Mato”, de minha autoria, foi o primeiro colocado. Que alegria! Ansioso para ver publicado o livro digital daquele ano.

Seus textos foram classificados em categorias distintas, há algum que sentiu mais dificuldade?

Normalmente, é o mais simples que também exige mais preparo. Falo dos haikai’s. Esse gênero prevê, em essência, uma métrica definida, um tema atrelado à natureza e uma enorme capacidade de síntese. Muito se assemelha, na minha opinião, a um quebra-cabeças: há de se propor a ideia, elaborar os versos e trocar as palavras até que se encaixem perfeitamente na extensão de três linhas apenas. É uma das formas mais desafiadoras e peculiares de construir um texto. Nos gêneros de prosa, acredito que sempre há aquela dificuldade de começar, de encarar o papel em branco ou, hoje em dia, o cursor piscando na tela em branco. Mas uma dica para todo estudante que necessita iniciar sua dissertação é: escreva… Inicie com uma frase ou metáfora qualquer. O que vier à mente. O importante é quebrar o gelo e começar. Depois, o texto fluirá quase que de forma natural, muito mais orgânico.

Na categoria poema conquistou o primeiro lugar, pode contar um pouco sobre o seu texto?

Para responder a essa pergunta, parafraseio as palavras do poeta e compositor Robert Hunter (1941-2019) que diz da impossibilidade de relatar em prosa o texto lírico: se houvesse essa possibilidade, não haveria de gastar a pena com o poema. Sendo evocativa, a poesia tem como destino a fala em níveis tão profundos que aproximar-se-á da experiência de comunicação não-verbal, diz o poeta. Mas isso não impede que eu disserte um pouco sobre as metáforas propostas. Diferentemente do meu poema de 2021, também destacado entre as três melhores poesias daquele ano e de título “A crina da palmeira”, onde se explorava uma cena e criava-se sobre ela um enredo personificado na quimera, tentando ir aos limites da imaginação, a alegoria em “Tela de pintar” traz à tona uma segunda interpretação, muito profunda, sobre as rusgas em nosso passado histórico, nossa dívida com os povos originários e nossos irmãos d’África, subjugados a destinos que não escolheram nem para si nem para seus descendentes. Convido a todos a lerem o poema e descobrirem, por si próprios, qual é esta “tela” do qual a poesia está falando e olharem para ela, por mais desconfortável que seja. Ainda nos dias de hoje, a “tela” se faz tão necessariamente (re)memorável.

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