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Colóquio As Mil Humanidades relembrou trajetória e trouxe novas perspectivas para debate
O Colóquio As Mil Humanidades é um evento anual promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABIS) e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade (NEPGS). A atividade acontece desde 2015 e comemorou sua décima edição esse ano.
Na abertura do evento, as servidoras Vanessa Soares de Castro e Silvani Lopes Lima, responsáveis pelos núcleos que organizam o evento, fizeram uma retrospectiva. Elas ressaltaram o sucesso mesmo em tempos de exceção, a exemplo da pandemia de COVID-19, época em que o evento foi realizado de maneira on-line. Silvani destacou a evolução que tiveram nesses dez anos de evento e a satisfação de poder organizar atividades para contemplar o público do diurno e do noturno na instituição. Ela ainda enfatizou que é preciso refletir e atualizar conceitos para que as pessoas ocupem cada vez mais o seu espaço de direito e ressaltou iniciativas como o conteúdo do ENEM, que em 2024 deu destaque para as pessoas negras no tema da redação.
Nessa décima edição, um dos destaques foi a palestra do professor Dr. Alyson Fernando Alves Ribeiro. Ele contou um pouco a respeito de sua pesquisa de pós-doutorado realizada na USP sob o tema “Território Ambiente e Políticas Públicas: Projeto “Regulariza Amazônia” Cooperação Bilateral Brasil-União Europeia para a Governança Fundiária”. Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, Alyson teve a oportunidade de vivenciar o dia a dia de comunidades nativas da Amazônia, suas tradições, cultura e desafios impostos pela sociedade capitalista.
Um dado que chamou atenção foi o número de morte de indígenas devido à conflitos de terra na área da Amazônia legal, que engloba Brasil, Bolívia, Equador, Colômbia e Peru: Foram mais de 200 pessoas assassinadas nos anos de 2021 e 2022. Alyson conheceu de perto o medo vivenciado por essas pessoas, sendo obrigado a finalizar suas entrevistas em São Paulo devido à ameaças caso permanecesse na Amazônia realizando sua pesquisa. No Brasil, esses conflitos se dão principalmente por causa do agronegócio e da mineração em terras amazônicas.
Além das comunidades indígenas, o pesquisador ainda visitou as comunidades quilombolas de Boa Vista e Lago do Moura, em Oriximiná, no Pará. Ele explicou que comunidades como essas estão em locais de difícil acesso em uma região que engloba partes dos estados do Pará, Amapá e Maranhão. A comunidade tem uma forte relação com a cerâmica, produzindo peças para diferentes usos e com diversas significações, a exemplo do amuleto em formato de sapo, sagrado para os membros da comunidade.
Alyson finalizou sua apresentação contando algumas histórias sobre como foi o tempo em que esteve na comunidade indígena dos Uru-Eu-Wau-Wau. Nessa visita, o pesquisador conviveu com as crianças e aprendeu como é a primeira infância naquela cultura. Segundo ele, o mais interessante é a liberdade que os pequenos encontram desde cedo, sendo livres para explorar a comunidade e aprenderem uns com os outros.
As outras duas palestras do evento foram sobre questões de transfobia e imigração. Pela manhã, o psicólogo Vincent Pereira Goulart falou a respeito da responsabilidade do estado para com o número de suicídios de pessoas trans, sendo que as entidades muitas vezes estão despreparadas para atender a essas pessoas e não conseguem promover o acolhimento necessário. Outro ponto importante de sua palestra foi o debate sobe empatia e capacidade de se colocar no lugar do outro, tentando ouvir sem julgar.
Durante a noite, o antropólogo Dr. Daniel Granada trouxe conceitos acadêmicos sobre migração e cultura. Ele falou sobre fenômenos como o hibridismo e criolização, que abordam a troca entre as diferentes culturas presentes em um país que acolhe imigrantes. Após essa palestra, imigrantes do Senegal e Haiti foram convidados para compartilhar suas experiências e mostrar como tratam a imigração enquanto projeto coletivo: Eles ressaltaram que vieram para o Brasil em busca de melhores condições de trabalho e que compartilham o que ganham com quem ficou no país natal. Os imigrantes enfatizaram os dois lados da imigração, ao mesmo tempo em que se sentem bem acolhidos e muitos adotaram o Brasil como seu lar definitivo, também sofreram com a separação da família e com as dificuldades da viagem, que muitas vezes era realizada em condições precárias.