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“Espectro em Cores” revela a expressão artística e sensível de estudante do IFRS – Campus Caxias do Sul
No dia 25 de outubro, ocorreu no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, na cidade de Caxias do Sul -RS, a Exposição Espectro em Cores. O evento que reúne obras de arte pintadas em tela, pelo estudante Lucas Gabriel Soares da Silva, segundo ano do curso técnico em plástico. O Lucas é autista de suporte 1, de pouca expressão verbal, porém, escolheu a arte como expressão do seu eu para o mundo.
A exposição foi realizada no II Festival de Arte e Cultura do IFRS – Campus Caxias do Sul, uma parceria entre o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE) e o Núcleo de Arte e Cultura (NAC).
O objetivo da exposição foi apresentar o trabalho do artista, promover a apreciação da arte, estimular o diálogo entre artistas e o público, e proporcionar experiências emocionais e culturais.
À curadoria, seleção e organização das obras em exposição, ficou a cargo dos professores doutores Alyson Fernando (coordenador do NAPNE) e Éder Silva (coordenador do NAC).
As obras de arte apresentadas ao público, são frutos das aulas de arte terapia no ateliê do artista plástico Willian Marx.
Confira a entrevista:
Prof Alyson: A primeira pergunta é sobre como foi o processo do Lucas nessa introdução na pintura, né? (0:09) Você me contou que ele chegou já no ateliê e nas primeiras horas ele já pegou o pincel. Então, eu queria que você relatasse um pouquinho sobre isso.
Artista plástico Willian Max: É, não tem teoria, né? Ele já chegou no primeiro dia pintando. E o curioso é que ele, o Lucas, mostrou bastante independência no processo de concluir a tela dele, né? Ele não gosta, porque alguns alunos eu dou um pitaquinho. Quando eu vou dar aquele pitaquinho, ele já tira o pincel da minha mão. Ele mostrou bastante independência e bastante criatividade também, porque praticamente eu não coloco a mão nas telas dele, né? Então, esse lado dele eu achei muito positivo.
Prof Alyson: A outra pergunta é sobre o estilo do Lucas, que você me relatou que ele tem um estilo de pincelada mais rápido, impressionista, eu gostaria que você falasse sobre isso.
Artista plástico Willian Max: O Lucas não tem uma pincelada realista, ele é mais impressionista, então quando se solta assim, ele gosta de jogar as tintas do jeito dele, como eu falei antes, ele não gosta que dê pitaco e você observando as telas dele, você vai observar que ele não tem aquela pincelada realista, ele gosta daquela pincelada jogada, conforme os impressionistas, o Clóvis Monet e aquela turma toda fazia.
Prof Alyson: A outra pergunta é, eu vou pedir agora para direcionar ao pai, é o que motivou vocês a procurar a terapia, né? Assim, você já me disse que o Lucas já pintava, pintava até no espectro mais escuro. Eu queria que você relatasse.
Pai do Lucas: É, a questão do autismo dele, a nossa preocupação com o futuro dele, né? Preocupados do que vai ser do Lucas daqui para frente. E o Lucas, ele precisava de uma terapia, então a gente procurou fazer a terapia de uma maneira que ele gostasse. Ele gosta de desenhar, fazer pinturas, estava muito pro lado preto e branco, então vamos dar mais vida, o autista gosta de cores. E aí a gente descobriu o talento do Lucas, que ele gosta de fazer pinturas em telas, né? Daí a gente conseguiu encontrar o professor O’Neill. Foi o que nos abraçou à causa e é o que está nos ajudando a moldar o Lucas.
Prof Alyson: Mas tirando dúvida, antes dele ir, alguma vez ele pintou assim? Ou ele só fazia desenho mesmo? Ou ele alguma vez pintou assim antes de fazer aula?
Pai do Lucas: Ele teve uma experiência no colégio. Ele pintou uma tela em conjunto com os colegas dele. E as professoras descobriram o talento dele. Isso incentivou o Lucas a fazer pintura em tela.
Prof Alyson: Então foi na escola?
Pai do Lucas: Foi na escola.
Prof Alyson: Eu queria que você divulgasse um pouco do seu trabalho, desse processo que você faz com a arteterapia, né? Você até relembrou que o Lucas faz aula mesmo com pessoas adultas, né?
Artista plástico Willian Max: Sim.
Prof Alysson: Então eu queria que você divulgasse um pouco de como a arte pode estar ajudando essas pessoas.
Artista plástico Willian Max: Sabe que a arte, a gente procura expressar o belo lá no meu espaço, eu ensino arte há 31 anos e eu cheguei em um momento que eu achei que só ensinar técnicas de pintura não seria o suficiente, eu achei melhor não, vamos colocar um pouquinho mais de tempero nesse processo na hora de concluir uma tela, trabalhar numa tela, foi quando eu tive a ideia então de buscar fazer alguns estudos com relação à terapia, no caso motivacional, trabalhar o emocional em vez de ficar só na técnica de pintura. Então nesses 31 anos que eu que eu ensino arte, o que aconteceu? O método foi evoluindo a tal ponto que hoje eu encurto o caminho pro aluno e além de encurtar caminho para o aluno tem aquela questão que eu falei, a linguagem, eu acho que ela tem que ser muito importante, porque se você está ensinando técnicas de pintura, somente a técnica de pintura, eu acho que ela não é suficiente pro aluno, digamos, melhorar a autoestima dele. Vamos admitir um aluno que tem problema de autoestima, é muito importante o diálogo, a maneira que de como conduzir esse aluno para concluir aquele trabalho, eu acho que isso faz toda a diferença. Eu sempre costumo dizer o seguinte: “O problema não está em quem aprende, está em quem ensina”, então é muito importante direcionar o aluno para que ele tenha um resultado e esse resultado motiva para que ele venha encarar mais desafios que é o caso do Lucas, o Lucas cada tela que ele faz ele está desenvolvendo mais desafios e está tirando tudo de letra né Lucas?
Prof Heloisa: Felicidade, sentimento de felicidade. Olha que lindo!
Lucas: Felicidade!
Prof Alyson: Muito bem, Lucas!
Prof Heloisa: E por que você coloca um disco voador, e um alienígena nas suas telas? O que tu quer dizer com isso, que eles existem, ou que tu inventou? Está naqueles livros que tu leu, que tu gosta?
Prof Alyson: Você gosta do alienígena?
Lucas: É porque tem possibilidades que existem.
Prof Heloisa: Porque tem possibilidades que existem. Muito bem!