Ensino
Campus produz teclado adaptado para aluno com baixa visão
O frio na barriga de retornar às cadeiras de uma instituição de ensino e o desafio à frente foram combustíveis para Maicol Domingues Ferreira Ortiz. Com 28 anos, ele iniciou os estudos no curso de Tecnologia em Processos Gerenciais do IFRS – Campus Farroupilha no primeiro semestre de 2020. Sem aulas presenciais, o estudante, que tem baixa visão, hoje conta com um notebook adaptado e, assim, segue a busca pelo conhecimento por meio das Atividades Pedagógicas Não Presenciais (APNPs) do IFRS.
Acessibilidade
Há poucos anos, Maicol perdeu praticamente toda a sua visão. Porém, cursar disciplinas a distância, devido à pandemia, não desanimou o estudante. Por meio do computador, no entanto, ainda seria um desafio.
No início das APNPs, em agosto deste ano, o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne) do Campus Farroupilha trocou uma ideia com os estudantes assistidos. O objetivo era mapear recursos necessários aos alunos para tornar as APNPs acessíveis.
“Como o caso da perda parcial de visão do Maicol é recente, ele ainda não domina totalmente o Braile e os leitores de tela. Mas com os colegas do Centro Tecnológico de Acessibilidade do IFRS (CTA), recebemos instruções”, lembra Luciara Brum, presidente do Napne.
Maicol aprovou os leitores de tela, após configurações, como o alto contraste e o cursor do mouse em tamanho que ele consegue acompanhar: “nunca tinha usado o NonVisual Desktop Access (NVDA – leitor de tela livre). Tenho muito o que aprender, mas consegui inicializar o notebook, abrir o writer, digitar, acessar e enviar e-mail. Nada muito rápido, mas já é uma evolução”, comemora o estudante. A Coordenadoria de T.I. do campus também colaborou para a configuração do notebook utilizado pelo aluno.
Teclado adaptado
Quando começaram as APNPs, o próprio Maicol teve um insight: “Como tenho a memória do teclado e da posição dos botões, dei a ideia de se recortar letras em alto relevo em máquina de corte a laser. A adaptação do teclado ficou muito boa”.
A engenhosidade, que utiliza peças em MDF, foi possível ser fabricada por meio de diálogo e trabalho com o professor Rafael Corrêa. Após testes, a tecnologia assistiva também foi aprovada pelo aluno.
Carreira
Por possuir uma pequena porcentagem de visão em apenas um dos olhos, Maicol hoje é aposentado. “Aproveito o momento para estudar e para conseguir colocar em prática o que estou aprendendo. De alguma maneira, quero retornar ao mundo do trabalho, quem sabe com um negócio próprio”, explica o estudante. Ele começou o curso de TPG justamente para ampliar conhecimentos na área de empreendedorismo e administração.
Estudar no campus e a convivência – atualmente virtual – com os professores e colegas estão superando as expectativas de Maicol: “no início, a gente fica um pouco receoso em como vai ser, mas essas coisas da vida temos de enfrentar”.
Fotos: colaboração de Camile Pedrolo e Maicol